Com Osesp, Paulo Szot mostra voz poderosa e bela dando elegância ao gesto dramático

O programa será apresentado parcialmente na abertura do Festival de Campos do Jordão

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Osesp

Embora comuns na cena lírica, programas com trechos de diferentes óperas não são fáceis de articular. Feitos para destacar o brilho dos cantores, as coleções de árias diversas frequentemente não têm lógica ou fio condutor.

Não é, entretanto, o que ocorre com o repertório apresentado nesta semana pela Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo) ao lado do premiado barítono brasileiro Paulo Szot, que mostra unidade na diversidade e um primoroso encadeamento.

Com estreia na quinta (27) e repetição programada para sexta (28), ele será parcialmente apresentado no sábado (29) na abertura da 50ª edição do Festival de Inverno de Campos do Jordão.

Composto integralmente por obras do romantismo russo —e alternando peças orquestrais com árias para barítono, cantadas no idioma original por Szot, que tem a ascendência polonesa a seu favor—, o programa tem uma estrutura dramática que progride num crescendo contínuo.

A leveza máxima está na abertura instrumental da ópera “Ruslan e Ludmila”, de Glinka (1804-57), tocada com virtuosismo e alta velocidade, puxada com gosto pela regente Marin Alsop. A dramaticidade maior, por sua vez, está na “Sinfonia n.4” de Tchaikóvski (1840-93), com suas belezas e exageros, que ocupa a parte final do programa.

Nela a Osesp alternou ótimos e bons momentos. É preciso dizer que no primeiro dia de apresentação, a entrada inicial das trompas não saiu perfeita, o que não comprometeu a escuta do primeiro movimento, o mais bem construído da sinfonia.

Paulo Szot tem uma voz poderosa e bela —homogênea nos diferentes registros—, e é também ator de amplos recursos, que sabe dosar com elegância o gesto dramático.

De Tchaikóvski ele apresentou a famosa ária de Onegin, da ópera “Eugene Onegin”, sobre texto do poeta Púchkin (1799-1837), a ária de Eletski de “Pique Dame” —na qual o acompanhamento oscilou— e a fulminante ária de Robert, da ópera “Iolanta”.

Sua interpretação mais matizada foi a de Igor, da ópera “Príncipe Igor”, de Borodin (1833-87), “nem sono nem descanso para minha alma exaurida; eu apenas revivo o passado, sozinho, na quietude da noite, e não há saída para mim”.

Mas o ponto culminante da noite foi uma interpretação perfeita da Osesp de “Nas Estepes da Ásia Central”, também de Borodin, composição instrumental que, infelizmente, não estará na abertura do Festival em Campos.

Solistas de clarinete e trompa prepararam o terreno para um inesquecível solo de Natan Albuquerque (corne inglês), seguido por flauta e clarinete, cellos, pela modulação nos violinos, a superposição dos dois temas —até o solitário solo de flauta: não precisaria de muito mais para a Osesp fazer uma gravação de referência da obra.

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