Cria da internet, Black Midi usa o celular para dar nova cara ao rock

Influenciada por gêneros que vão do jazz ao rap, banda britânica faz som com guitarras e aposta na instrumentação ao vivo

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São Paulo

Quatro jovens tocam uma base que vai do rock direto e barulhento a um punk jazz de pegada vanguardista, enquanto Matt Kwasniewski-Kelvin, no canto do palco, posiciona um celular nos captadores de sua guitarra. Minutos depois, ele larga o instrumento e sai correndo só para dar um salto mortal na frente dos companheiros.

“Ficamos sabendo que Jimi Hendrix conseguia transmitir sons pelos captadores”, diz Geordie Greep, vocalista do quarteto Black Midi. “Então, Matt tinha no celular um sample que ele achava interessante e quis botar na música.”

quatro jovens de preto
A banda britânica de rock Black Midi - Dan Kendall/Divulgação

A cena aconteceu durante a apresentação do Black Midi na cerimônia do Mercury Prize, que elege o melhor álbum britânico do ano. Em 2019, o prêmio não ficou com o grupo estreante, mas a mistura de postura desleixada com sonoridade provocativa vem sendo uma das novidades mais comentadas da música britânica nos últimos meses.

Neste ano, o Black Midi lançou “Schlagenheim”, um disco de rock que, segundo um fã no YouTube, soa “ao mesmo tempo como várias coisas e como nada que já ouvi antes”.

“Gosto dessa definição”, comenta o vocalista. “Até porque qualquer coisa que seja incrível na arte, se você reproduzir demais, aquilo vai se esgotar.”

Com todos os integrantes com idade por volta de 20 anos, o Black Midi surge exatamente numa época de notável saturação no rock. O gênero anda sumido tanto da preferência da crítica quanto das listas de mais vendidos.

“Não é sobre fazer o rock ser interessante de novo, é sobre fazer música que seja interessante”, reflete Greep.

De fato, o Black Midi pode remeter tanto ao pós-punk agressivo do Sonic Youth quanto à precisão do Neu!, mas também pode evocar o caos sonoro de Danny Brown ou a liberdade rítmica do jazz. O uso de samples no celular é uma reinvenção dinâmica de um artifício tradicional do hip-hop.

Segundo o vocalista, o que uniu os garotos, estudantes da renomada Brit School, foi o gosto pela ambient music de Brian Eno, o noise, o progressivo e o R&B de Marvin Gaye. Nesse sentido, “Schlagenheim” soa como a biblioteca do Spotify de um nerd de música chegando aos 20 anos de idade.

quatro jovens de preto
A banda britânica de rock Black Midi - Dan Kendall/Divulgação

“Ouvir música é minha principal atividade recreativa da vida desde os oito anos”, admite Greep. “A internet é maravilhosa, você pode achar uma gravação de qualquer coisa na internet, não importa a época em que foi produzida.”

Antes de lançar o primeiro álbum, o Black Midi já tinha alguma fama na internet, graças a vídeos de performances das músicas que —algumas bastante modificadas— viriam a integrar o disco. Numa época de canções cada vez mais eletrônicas, é pelo caminho oposto que o grupo encontra reconhecimento.

“Não é como se a gente não gostasse da música pop ou achássemos que ela está pasteurizada”, diz Greep, que na adolescência foi músico de igreja, onde desenvolveu a capacidade de improvisar. “Na verdade, só gostamos muito de instrumentação ao vivo.”

Mesmo com o costume britânico de tratar qualquer novidade mais interessante como revolução, o Black Midi parece querer mais ser reflexo de como uma nova geração se relaciona com o que significa ser uma banda de rock. “Ser rock é o aspecto menos importante sobre ser bom ou não”, diz Greep.

Schlagenheim

  • Onde Disponível nas plataformas digitais
  • Autor Black Midi
  • Gravadora Rough Trade
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