Espetáculo põe em cena história de freiras que viveram clausura absoluta

Com direção de Yara de Novaes, peça foi inspirada em pinturas de colombianas religiosas mortas

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As atrizes Sara Antunes e Carolina Virguez, em cena do espetáculo que está em cartaz no Sesc Belenzinho - Lenise Pinheiro/Folhapress
São Paulo

Impactada por algo que viu em um museu em Bogotá, a atriz colombiana Carolina Virgüez pensou em um espetáculo de teatro. Ela visitou uma exposição sobre freiras que, até o século 19, experimentaram a clausura absoluta no mosteiro de Santa Clara. Já de volta ao Brasil, juntou-se a Sara Antunes, e elas idealizaram a peça “Corpos Opacos”.

A dupla iniciou estudos cênicos sobre a condição daquelas mulheres que, além de passarem pela experiência do isolamento, esperavam passar a vida para,  apenas depois de mortas, serem retratadas em pinturas. A história oferecia a oportunidade de analisar o papel da mulher sob a perspectiva da religiosidade. O espetáculo está em cartaz no Sesc Belenzinho até o dia 30.

As imagens das mulheres religiosas que inspiraram o espetáculo até hoje podem ser vistas em diversos museus na Colômbia. Elas aparecem adornados com coroas de flores e vestidas com mortalhas bordadas por elas mesmas.

Yara de Novaes, a diretora da peça, ingressou no projeto já no ponto em que os estudos de cena haviam sido criados pela dupla. Ela então propôs que a leitura de uma opressão sistemática sobre essas mulheres fosse analisada sob uma nova perspectiva. 

“A representação da mulher ali, já morta, é impactante, algo violento para a história da representação feminina. E as duas estavam ainda muito dentro da situação do convento, colocando as freiras sempre sob a condição desse patriarcado, da mulher penitente e que passa pela supressão do prazer”, conta.

A diretora (de “Entre” e “O Capote”) e a dupla de atrizes passaram então a se dedicar à leitura de obras criadas pelos pares dessas mulheres, focando a teologia feminista. E o grupo acabou encontrando uma forma de dar mais complexidade àquela condição. 

“Não digo que não havia opressão nesse sistema eclesiástico, que era bastante masculino. Mas havia um lugar ali que propiciava também a expressão intelectual e artística da mulher”, diz Novaes, em referência às freiras que assinaram textos poéticos, muitos deles relacionados ao prazer de comungar experiências espirituais que podiam levá-las também a uma espécie de êxtase. “Muitas delas iam para esses conventos porque não queriam casar ou ter filhos.”

A dramaturgia da peça se aproxima da forma de um depoimento pessoal, costurando inclusive dados biográficos das criadoras e, em um segundo momento, se converte em uma espécie de dança. 

A criação também se ampara em uma ambientação de natureza onírica, criada pela cenografia de Márcio Medina e luz de Wagner Antônio.

Corpos Opacos

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