O cinema italiano sofreu com a uniformização do cinema autoral que ocorreu desde os anos 1970, e poucos diretores realmente bons se ergueram no país nas últimas décadas.
Nanni Moretti é um deles. O cineasta de “Caro Diário” (1993) e “O Quarto do Filho” (2001) volta agora com um documentário, registro minoritário em sua carreira.
Trata-se de um longa que olha para o Chile de 1973 para investigar como a embaixada italiana ajudou os opositores do regime autoritário e criminoso do general Pinochet.
O retorno ao documentário pode significar uma tentativa de interromper a crise criativa que se abateu contra ele após “Habemus Papam” e está evidenciada, mesmo nos momentos belos, em seu último longa, “Minha Mãe”.
Mas é certo que deve ter pesado o atual momento da Itália, país governado por uma direita rancorosa, e do mundo, assombrado pelo crescimento de uma extrema direita grosseira e ignorante.
Moretti, velho e bom cão de guarda dos ideais humanistas, levanta sua voz contra a intolerância, a tortura e o autoritarismo neste nosso mundo que vê anestesiado e desmemoriado algumas crueldades históricas se repetirem.
Desde a primeira imagem do filme percebemos estar diante de um cineasta invulgar: o próprio Moretti observa a capital chilena do alto com a imponente cordilheira dos Andes ao fundo, os picos cheios de neve.
É um olhar carinhoso e interessado para a cidade. Depois, vemos imagens de manifestações atuais, antes de voltar no tempo para mostrar o horror e a resistência a ele.
O filme entra então em seu registro histórico-didático: a coalizão de esquerda, a liderança de Allende, a utopia de um regime mais igualitário. E seu reverso: o golpe que instaurou uma ditadura sangrenta.
Triste, um tanto comportado nas entrevistas, mas bem concatenado (ainda que por vezes de maneira óbvia), “Santiago, Itália” é a demonstração de quanto se perde quando os interesses de poucos se sobrepõem aos de muitos.
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