Após protestos, feira do livro em SC cancela presença de Miriam Leitão

Evento em Jaraguá do Sul recebeu mensagens contra a participação da jornalista e do sociólogo Sérgio Abranches

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Rio de Janeiro

Um dia depois de anunciada, a comissão organizadora decidiu cancelar, nesta terça-feira (16), a participação da jornalista Miriam Leitão na 13ª Feira do Livro de Jaraguá do Sul, em Santa Catarina.

A presença do sociólogo Sérgio Abranches também foi cancelada.

Os dois foram vetados pela organização em resposta a uma campanha nas redes sociais.  Ela é vista como oposicionista ao governo de Jair Bolsonaro (PSL), presidente que teve na cidade 83% dos votos válidos na última eleição.

“Por seu viés ideológico e posicionamento, a população jaraguaense repudia sua presença, requerendo, assim que a mesma não se faça presente em evento tão importante em nossa cidade”, diz o manifesto que reuniu 3.050 assinaturas até esta tarde. 

Apoiada pela prefeitura, a feira acontecerá de 8 a 18 de agosto. 

A jornalista Miriam Leitão no lançamento do seu livro "A Verdade É Teimosa", em São Paulo - Bruno Poletti/Folhapress

De acordo com o coordenador artístico do evento, Carlos Schroeder, além do manifesto, logo após o anúncio, moradores da cidade passaram a enviar ameaças de boicote ao evento e de ataques a Miriam a organizadores da feira. Segundo Schroeder, ele e outros coordenadores chegaram a receber uma mensagem ameaçadora por minuto em menos de 24 horas.

Em algumas delas, segundo ele, as pessoas diziam que não deixariam seus filhos irem ao evento, jogariam ovos na jornalista ou até mesmo impediriam a entrada do casal na cidade. “Para evitar que o evento fosse descontinuado, a gente optou por cancelar a vinda dela, infelizmente. Também pela segurança do evento e dela, sobretudo”, afirmou o organizador.

Schroeder disse que se sentiu constrangido de ter que desconvidar os participantes da feira e, a princípio, afirmou à jornalista que o evento havia sofrido um corte orçamentário. “Tive vergonha de falar para ela: ‘Olha, Miriam, não posso garantir sua segurança na cidade’”, lamentou.

Diante da repercussão do caso, o coordenador enviou e-mails ao casal contando a verdade. “A gente está organizando um evento de literatura e defendo sobretudo a liberdade de expressão e opinião, é um palco de ideias. Mas, por outro lado, não sei o que aconteceria”, diz Carlos, que acredita agora ter sido mais prudente a decisão pelo cancelamento da mesa de debates.

Miriam e Abranches participariam de uma mesa chamada ‘Biblioteca Afetiva’, em que falariam de livros que marcaram sua trajetória pessoal e profissional.

O organizador da feira de Jaraguá comparou o repúdio aos escritores com os ataques ao jornalista americano Glenn Greenwald no último dia 12, quando participou da programação da Flipei, casa parceira da Flip, em Paraty (RJ). Ele chegou ao evento com forte esquema de segurança e foi alvo de protestos contrários e favoráveis à sua participação em um debate.

“A gente vai ser crucificado de todos os lados: pela direita, por ter convidado e pela esquerda por ter desconvidado. Mas é muito fácil falar, difícil é estar nessa posição”, apontou Schroeder.

A Feira Literária de Jaraguá do Sul acontece entre os dias 8 e 18 de agosto no centro cultural da cidade. O evento está na 13ª edição e já contou com nomes como Maurício de Souza e Arnaldo Antunes. O encontro é bancado por verbas da prefeitura e de parceiros privados.

“A feira sempre foi marcada por ser um evento plural, que promove o conhecimento por meio da literatura, teatro, música e artes visuais. Nesses 12 anos, já enfrentou inúmeras dificuldades, da escassez de recursos financeiros até enchentes. Mas nunca, em toda sua história, foi atacada pela escolha de seus convidados. (...) A feira é, e sempre foi, um evento de difusão do livro e da leitura, sem fins políticos, religiosos ou ideológicos”, diz nota da organização.  

Colaborou Katna Baran

 

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