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Artes Cênicas

Falta comédia e sobram piadas infantis em novo 'Macunaíma'

Novo 'Macunaíma' troca humor por discurso para convertidos

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Macunaíma - Uma Rapsódia Musical

  • Quando Qua., às 15h, qui., sex. e sáb., às 20h, e dom., às 18h. Até 15/8
  • Onde Sesc Vila Mariana - Teatro Antunes Filho, r. Pelotas, 141
  • Preço R$ 15 a R$ 50
  • Classificação 18 anos

O “Macunaíma” de Antunes Filho, quatro décadas atrás, contava a história, era engraçado e marcadamente musical —ou, melhor, se fazia acompanhar por uma “rapsódia musical” de Murilo Alvarenga, como anunciava seu programa.

Este “Macunaíma” que entrou em cartaz no Teatro Antunes Filho, dedicado expressamente ao diretor morto em maio, é outra coisa. É um amontoado de imagens belas e instigantes e de sons de todo gênero que, muito raramente, lançam ponte para alguma possível estrutura dramática.

Com encenação, cenário e escritura cênica assinados por Bia Lessa, são quadros independentes de impacto visual e musical intermitente, como diferentes instalações de uma mostra. Mais do que montagem, é uma desconstrução da obra de Mário de Andrade.

Seu humor, se é que se pode dizer assim, é muito diverso daquele, então quase ingênuo, de chanchada —ao menos na versão protagonizada por Marcos Oliveira. Este, com três atores para o personagem-título, nenhum deles cômico, deixa um gosto amargo de sarcasmo cosmopolita.

Aquele levou ao mundo, ao longo de uma década, a paixão pela cultura, pelo sexo e tudo mais dos índios brasileiros. Este levanta bandeira salvacionista, até em alemão, sem legenda. Faz campanha com off de Maria Bethânia ou Arnaldo Antunes declamando.

O que mais importuna é o final, o contraste entre a simplicidade daquele, com escada e lâmpada, e a retumbância deste, com o que parece ser uma passeata na boca de cena. Isso para uma plateia que, no Sesc Vila Mariana, não precisa de mais discurso.

Mas a produção é de apuro e o elenco, formado essencialmente pela Barca dos Corações Partidos, o mesmo grupo do celebrado musical “Auto do Reino do Sol” de dois anos atrás, consegue trazer à vida muitas das cenas esparsas.

Mas não tem jeito, falta comédia à adaptação de Verônica Stigger —de novo, tão diversa da de Jacques Thieriot, que deu origem ao espetáculo de Antunes. Pior, sobram piadas infantis sobre sotaque estrangeiro ou escatologia.

Visualmente, é esplendoroso. Os jornais da direção de arte de Naum Alves de Souza, de 1978, dão lugar a sacos de lixo ou, melhor, a um gigante plástico preto que tudo envolve e, moldado pelos atores, sugere formas ainda mais desordenadas, livres —e poluídas.

Outro exemplo, entre muitos, vem com grandes cubos transparentes que envolvem e sufocam os atos sexuais. Nada é simples como nas soluções de Antunes e Naum, mas as invenções de Bia Lessa não ficam atrás, em perturbação.

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