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Los Angeles cria tour mórbido para visitar locais de crimes da família Manson

Passeio, filmes e séries renovam interesse por líder do culto na esteira de novo longa de Tarantino

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São Paulo

Pouco resta da casa na Cielo Drive onde a atriz Sharon Tate, grávida de oito meses, e outras quatro pessoas foram mortas por seguidores de Charles Manson há 50 anos. Demolida em 1994, deu lugar a uma mansão, hoje do produtor de TV Jeff Franklin. Ali, nem o antigo número permanece. Foi substituído por outro, para afastar curiosos.

Mas a ausência da casa original não foi suficiente para manter longe o fotógrafo mexicano Orozco Rodriguez. Na última terça-feira, três dias antes do cinquentenário do crime, ele passou parte da manhã tirando retratos da paisagem em torno do portão preto que esconde a nova residência do olhar de estranhos. O interesse, diz, não é a casa em si. “Quero andar pelo lugar para sentir a vibração da época.”

Segundo jornais americanos, a proximidade da data e a estreia recente de “Era uma Vez em... Hollywood”, longa de Quentin Tarantino que retrata os seguidores de Manson, tem atraído curiosos à região. 

Cinquenta anos depois, os assassinatos promovidos pelo grupo fazem parte da cultura e do imaginário americano. Tarantino pode ser um dos principais motivos para o renovado interesse em tudo que tem a ver com Manson, que morreu há dois anos, mas seu novo filme não é a única produção recente a retratar a história dos crimes.

Além de “The Haunting of Sharon Tate”, longa em que Hillary Duff interpreta os últimos dias da atriz, há “Charlie Says”, uma versão cinematográfica que adota o ponto de vista das seguidoras de Manson. O próprio líder da seita aparece na nova temporada da série “Mindhunter” e num episódio de “American Horror Story” inspirado em seu culto.

Organizador da Helter Skelter Tour, passeio em Los Angeles inspirado no caso, Scott Michaels conta que a procura para agosto surpreendeu. 

“Sempre esteve cheio perto do aniversário das mortes, mas nunca vi nada como agora. É chocante. Tem pessoas vindo da Austrália e da Inglaterra para fazer o passeio.”

Michaels, que serviu de consultor para Tarantino na produção do filme, precisou até abrir novas datas para a visita.

Apesar do interesse, Jeffrey Melnick, professor de estudos americanos da Universidade de Massachusetts, afirma que 99% das aparições de Charles Manson se resumem a um único estereótipo —o do maníaco diabólico, de cabelos e barbas longos e sotaque sulista.

O ator Damon Herriman intepreta o líder de culto Charles Manson em cena de 'Era uma Vez...em Hollywood', de Quentin Tarantino
O ator Damon Herriman intepreta o líder de culto Charles Manson em cena de 'Era uma Vez...em Hollywood', de Quentin Tarantino - Divulgação

“Exceções são raras. Uma série de TV, ‘Aquarius’, trouxe uma interpretação interessante dele. Eles o retrataram como uma figura central na Califórnia, não só para a contracultura, mas ligado a políticos conservadores e também aos Panteras Negras. Ele era central no fim dos anos 1960”, diz.

Sua figura também aparece metamorfoseada em notórios filmes de horror da década de de 1970, como “O Massacre da Serra Elétrica”, diz o acadêmico, que é autor do livro “Creepy Crawling”, sobre a influência de Charles Manson na cultura americana. 

O líder do culto também teria sido um dos inspiradores do subgênero cinematográfico “home invasion”, que retrata invasões domiciliares.

Por trás da atração por histórias de criminosos e serial killers está um instinto de autopreservação, diz a professora de criminologia Christine Sarteschi, da Universidade Chatham, na Pensilvânia. 

“Manson convenceu mulheres a matarem por ele. As pessoas se perguntam como alguém chega a esse ponto”, diz. “Uma celebridade foi morta, e, por isso, é um crime que nunca vai desaparecer. Provavelmente, daqui a 50 anos, ainda estaremos falando nele.”

O principal efeito prático dos crimes foi incentivar a população americana a fechar as portas para a contracultura, na opinião de Jeffrey Melnick.

“Virou uma desculpa para dizer que as novas formas de viver em comunidade não funcionavam. Manson foi usado como arma, parte de um movimento reacionário que deslegitimou os hippies.”

A figura daquele líder de seita é atraente até hoje, segundo o acadêmico, porque sua história aborda conceitos cruciais, como a formação de uma família e a relação de poder entre homem e mulher.

Ainda segundo ele, sua história estaria inserida num contexto político maior de regresso ao conservadorismo, cujos efeitos levaram à eleição de Ronald Reagan, em 1980 e, a longo prazo, ao momento que o mundo vive hoje.

“É uma volta às tradições que os Estados Unidos e o Brasil estão vivenciando, em que a família é formada por um homem e uma mulher, com homossexuais postos à margem”, afirma Melnick. “Isso está na história de Manson, que, como os hippies, esteve no centro da cultura da época e foi expulso. Hoje ele simboliza o maior dos horrores: o estranho que entra em sua casa sem ser convidado.”

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