Algo entre um monstro e um pássaro saiu das mãos de Beatriz Oda, 21, uma das alunas do Instituto Olga Kos cujos trabalhos estarão expostos no MIS até 13 de outubro.
A parceria entre o museu e o IOK é de duas mãos, diz Cleber Papa, diretor cultural do MIS. “Acessibilidade e desenvolvimento faz parte do nosso DNA, e eles nos apoiam nisso.”
Durante seis meses, um grupo de garotos do instituto estudou o trabalho de Thomaz e João Farkas e os usou como referência para produzir máscaras e fundos e fotografá-los.
“É um trabalho lindo, de uma criatividade sem censura”, diz João, que participou das oficinas a convite do IOK.
“Essa força da arte que é compreensível, universal, que aparece nas criações dos moradores de Maragojipe, foi imediatamente compreendida e replicada pelas crianças.”
Ele chama de “lição de humildade” a sessão em que os alunos vestiram as máscaras e se fotografaram contra os fundos.
“Foi uma prova de como a criatividade não exige uma articulação racional, não tem essa barreira. Eles tinham todo o aparato criativo, e talvez até mais, por falta de condicionamento cultural.”
Beatriz, que é autista, não aprendeu a ler nem a escrever, mas se apaixonou pelas artes desde que entrou no IOK, em 2013. Pintura, dobradura, colagem, trabalhos com papel ou tecido, ela se sai bem com qualquer material ou linguagem, diz a mãe, Eliana.
Por telefone, Beatriz conta também sobre as fotos que fez na avenida Paulista, na parte da oficina que remetia à obra de Thomaz Farkas. Prédios, carros, flores e cachorros foram seus objetos de estudo.
Na seleção das obras, a curadora Camila Cury procurou mostrar sua autenticidade: “A fotografia permite escolher o ângulo, recortar pedaços da realidade, e foi com esse conceito que trabalhamos bastante com o grupo”.
No museu, a sala da mostra ‘Cotidiano Singular’ foi dividida diagonalmente, metade azul e metade preta. Na primeira estão os trabalhos inspirados em Maragojipe e, na segunda, os de exploração fotográfica, nos quais a sombra é um elemento presente.
Para João Farkas, a experiência foi reveladora. “Fui com certa reticência, achando que o grupo não entenderia bem a mensagem”, conta sobre seu primeiro dia com os alunos.
Quando se encontrou com o grupo, porém, seu estranhamento foi desarmado. “Fizeram mil perguntas e fui ficando fascinado pela percepção que eles tinham do meu trabalho e pelo que eles próprios construíram.”
João se viu como alvo da curiosidade do grupo e saiu da defensiva: “Eu é que era o estranho, o objeto de investigação, e isso me obrigou a mudar o ponto de vista. Criou-se o diálogo”.
Essa aproximação é justamente um dos objetivos da exposição e do IOK, diz a curadora Camila Cury:
“Tornar o museu um espaço acessível também às obras dessas pessoas permite que elas mostrem suas qualidades de criação, que todos podem ter. Só precisa ser despertado.”
Fundado em 2007, o IOK utiliza esportes e artes como ferramentas para melhorar a capacidade física, emocional e cognitiva de cerca de 3.000 pessoas com deficiência intelectual de várias faixas etárias.
As oficinas acontecem em 40 locais na capital paulista.
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