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Grupo inglês Monty Python faz 50 anos e mantém a relevância no humor

Tiradas críticas e refinadas ainda provocam riso sem qualquer caráter nostálgico

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São Paulo

Um dos temas mais discutidos na cultura pop neste ano é como o mundo seria sem os Beatles. A proposta, criada no filme “Yesterday”, ainda em cartaz nos cinemas, poderia ser aplicada também a outro grupo britânico, tão inovador na comédia quanto o quarteto de Liverpool foi na música.

Sem Monty Python, que estreou na TV inglesa há 50 anos, em 5 de outubro de 1969, o mundo certamente não teria o programa americano de TV “Saturday Night Live”, que guiou o humor em Hollywood nas últimas décadas. No Brasil, dificilmente surgiriam atrações como “TV Pirata” ou “Casseta & Planeta”.

A trupe inglesa foi formada pelos atores e roteiristas Graham Chapman, John Cleese, Eric Idle, Michael Palin e Terry Jones. Quando eles começaram a criar o programa “Monty Python’s Flying Circus”, para a BBC, já estava com eles o sexto integrante, o cartunista Terry Gilliam, que tinha trabalhado na revista Mad. Aos poucos, ele passou a atuar, escrever e dirigir, no rodízio de funções que marcou o grupo.

Eles vinham de participações em inúmeros projetos de TV nos anos 1960, cada um cruzando várias vezes o caminho dos outros. A ideia do programa era diferente de tudo o que já tinha sido feito em humor na TV, mas utilizava duas tradições britânicas (e mundiais): os grupos de repertório, nos quais os atores interpretam vários personagens, e as esquetes de rádio, quadros curtíssimos de piadas.

A aposta da BBC era ousada, porque o nível intelectual dos integrantes oferecia roteiros nada simples. Os humoristas se encontraram nos tempos de faculdade, alguns em Cambridge e outros em Oxford, para depois unirem forças e criarem textos cheios de referências nada populares.

As piadas do grupo falam de filósofos, clássicos da literatura, grandes descobertas da ciência, religiões e passagens da história da humanidade. Terry Jones contou certa vez que, nas reuniões de roteiro, quando algum deles ponderava que talvez o público não fosse capaz de entender sobre o que eles estavam falando, aí sim é que ficavam empolgados.

O sucesso do programa foi imediato. “Monty Python’s Flying Circus” teve 45 episódios na TV, até 1974. O grupo levou sua performance para o teatro, terreno sagrado da arte na Inglaterra, com o mesmo sucesso. 
O inevitável passo para o cinema foi dado em 1971, com “E Agora para Algo Completamente Diferente”.

Apesar do nome, que era um dos jargões da série, não era tão diferente assim. Era uma reunião de esquetes exibidas nas primeiras temporadas do programa, refilmadas para a tela grande.

Em todas as mídias, usavam fartamente os desenhos de Gilliam, que fazia colagens de imagens clássicas, num trabalho consagrado que se tornou marca registrada do grupo.

Depois da reciclagem de material no primeiro filme, eles partiram para efetivamente criar um longa, com “Monty Python em Busca do Cálice Sagrado” (1975), que mostra os cavaleiros do rei Arthur atrás do Santo Graal. Além de muito engraçada, a produção fazia piadas visuais com condições de orçamento bem limitantes. O Monty Python era capaz de rir de si mesmo.

O filme foi consagrado pela crítica, mas não emplacou grande bilheteria. Para tentar ganhar público, o sexteto partiu para um projeto mais ousado, “A Vida de Brian” (1979).

O alvo das piadas era a história de Cristo. O roteiro mostrava as agruras de Brian, que nasceu no mesmo dia de Jesus, mas num estábulo ao lado do berço do filho de Deus. 

As reações de religiosos foram pesadas, e o filme sofreu censura em alguns países. Mas “A Vida de Brian” foi um dos hits do ano. O sucesso levou o grupo para uma turnê mundial, lotando até ginásios com mais de 10 mil espectadores.

Em 1983, eles arriscaram tudo num projeto ambicioso no cinema: “Monty Python - O Sentido da Vida”, em que esquetes originais para o filme criavam um quadro das angústias do homem. Muito divertido, mas teve uma produção um tanto caótica, em que o desgaste da relação entre os integrantes do grupo se evidenciava após mais de uma década.

A dissolução da trupe rendeu carreiras bem diferentes. John Cleese se tornou ator de Hollywood, em filmes como “Um Peixe Chamado Wanda” (1988) e até produções de James Bond. Eric Idle e Terry Jones tiveram carreiras individuais menos destacadas.

Michael Palin continuou atuando. Mesmo amado pelo público de comédias, teve muito mais reconhecimento como escritor e produtor de séries televisivas bem-humoradas sobre ciência e história. Graham Chapman morreu prematuramente, aos 48 anos, em 1989, diagnosticado com câncer.

Foi Terry Gilliam que seguiu a carreira mais aclamada depois do Monty Python, escrevendo e dirigindo obras como “Brazil: O Filme” (1985), “Os 12 Macacos” (1995) e “O Pescador de Ilusões” (1991). Alguns de seus filmes, como “Brazil” ou “As Aventuras do Barão de Munchausen” (1988), são insistentemente classificados por críticos e fãs como “herdeiros” do estilo do Monty Python. Gilliam detesta essa observação.

A obra do grupo, que de vez em quando volta a ser acessível, em esporádicas exibições e relançamentos, chega ao cinquentenário de “Monty Python’s Flying Circus” definitivamente resistindo ao tempo.

Seu humor crítico e refinado se utilizou muito de referências atemporais, sem se conectar demais a detalhes do que acontecia no mundo nos anos 1970 e 1980. Monty Python continua um clássico, provocando risos sem qualquer caráter nostálgico.

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