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Incontrolável, baterista do Cream tocava com energia animal

Ginger Baker, morto neste domingo (6), criou o jeito de batucar do que viria a ser o heavy metal

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Alguns especialistas podem pôr o londrino Ginger Baker na lista dos cinco melhores bateristas da história do rock. Numa lista de dez, aí é uma unanimidade. Porque ele criou o jeito de tocar o instrumento no que viria a ser o rock pesado.

Peter Edward Baker morreu na manhã de domingo (6), aos 80 anos. Estava internado havia semanas, e a família não divulgou a causa da morte.

Ginger Baker se apresenta no Rock 'N' Roll Fantasy Camp, nos estúdio AMP, em Hollywood, Califórnia
Ginger Baker se apresenta no Rock 'N' Roll Fantasy Camp, nos estúdio AMP, em Hollywood, Califórnia - Kevin Winter - 6.nov.2015/Getty Images North America/AFP

Em 1966, Eric Clapton já era chamado de Deus e tinha largado o Yardbirds, combo histórico do rock britânico. Procurava um baixista e um baterista para um trio, formato enxuto em que cada um desenvolvesse o melhor desempenho possível.

Ele encontrou os parceiros num mesmo grupo. Jack Bruce e Ginger Baker formavam a cozinha rítmica na banda de blues Graham Bond Organisation. Clapton achou os dois “alucinados”, e então estava montado o Cream. O estilo era uma aceleração do blues, um som meio viajandão, de músicas longas.

Essa acelerada no blues também foi o caminho de outro guitarrista que deixou o Yardbirds, Jimmy Page, para formar o Led Zeppelin. O Cream foi nítida influência para Page. Cream e Zeppelin foram pais dessa coisa que se transformaria no heavy metal, o rito de passagem de todo garoto roqueiro.

O Cream produziu discos geniais e suas performances ao vivo eram ainda mais impressionantes. Mas Clapton percebeu em pouco tempo que Baker não era alucinado só atrás da bateria. De tipo brigão, incontrolável, Clapton e Bruce o suportavam devido ao talento e à energia animal para bater em bumbos e pratos. Baker, aliás, foi um dos pioneiros no rock a usar dois bumbos.

Os três primeiros álbuns do Cream são essenciais em discotecas roqueiras —“Fresh Cream”, de 1966, “Disraeli Gears”, de 1967, e “Wheels of Fire”, de 1968. O último, “Goodbye”, de 1969, tem seis longas faixas, três delas ao vivo, nas quais se pode sentir a performance enlouquecida de Baker.

Mesmo com as brigas que acabaram com o Cream, Clapton aceitou o baterista em seu projeto seguinte, Blind Faith, um dos primeiros supergrupos do rock. Supergrupo, no caso, é a reunião de músicos já consagrados em outras bandas.

O Blind Faith era um quarteto completado por Ric Grech, ex-baixista da Family, e Steve Winwood, menino  prodígio do rock britânico nos anos 1960 à frente do Traffic.

Com tantos egos inflados, o Blind Faith durou poucos meses. Seu único álbum, que leva o nome da banda, gravado em 1970, é talvez o melhor cartão de visitas do talento de Baker.

Com o fim do Blind Faith, o baterista se mudou para a Nigéria e seguiu tocando, com uma produção de discos irregulares. Em 1971, Baker se associou a Fela Kuti, pai do afrobeat, em shows espetaculares. Ele formou a banda Ginger Baker’s Air Force, de resultado mediano, numa época de muita dependência de heroína.

Depois, nos anos 1990, após um período de aproximação forte com o jazz, lançou o disco “Falling Off the Roof”, ao lado do guitarrista Bill Frisell e do baixista Charlie Haden. Na mesma década, esboçou outro supergrupo, com o guitarrista Gary Moore e novamente Jack Bruce, mas sem sucesso.

Nas últimas décadas, tocou com Clapton e Bruce em reuniões pontuais comemorativas do Cream, interrompidas com a morte do baixista, em 2014. Baker lançou uma autobiografia, “Hellraiser”, em 2009, e foi tema de um filme, “Beware of Mr. Baker”, de 2012.

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