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Festival de Brasília encerra primeiro fim de semana com mais protestos

Equipe do filme 'A Febre' apresentou carta cuja leitura fora interrompida pela organização na abertura do evento

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Brasília

Uma carta contra a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal cuja leitura tinha sido impedida na cerimônia de abertura do 52º Festival de Brasília, na sexta (22), foi enfim lida na íntegra neste domingo (24), no Cine Brasília.

Então, um manifestante que havia subido ao palco, o ator Marcelo Pelucio, foi confrontado por um segurança e teve o som do microfone cortado. A plateia acusou a organização de censura.

Neste domingo (24), porém, a equipe do longa "A Febre", que fez sua première brasileira no festival, aproveitou o palco para terminar de ler o documento.

“O que vimos aqui é muito sintomático do que estamos vivendo, um momento em que atores políticos interferem em ações que pertencem à sociedade, e não a eles”, disse o produtor Leonardo Mecchi, ao lado da diretora Maya Da-Rin e da atriz Rosa Peixoto. O público aplaudiu de pé.

Grupo de pessoas em cima de um palco
A equipe do filme 'A Febre' sobe ao palco do Cine Brasília antes de sua exibição no Festival de Brasília, no domingo (24) - Mayangdi Inzaulgarat/Divulgação

Assinada pelo Movimento Cultural do Distrito Federal, que reúne uma série de entidades artísticas, a carta critica a suspensão de um edital do FAC, o Fundo de Apoio à Cultura, no valor de R$ 25 milhões pelo secretário Adão Cândido no primeiro semestre, entre outros itens.

Colecionando prêmios em festivais internacionais —incluindo melhor ator para o protagonista Regis Myrupu em Locarno, na Suíça—, "A Febre" é um dos principais títulos a concorrer pelo Candango este ano. Nele, um indígena que trabalha como vigia num porto de Manaus é acometido pela estranha febre do título quando sua filha anuncia que se mudará para Brasília.

Os espectadores discutiam as semelhanças da produção, falada em grande parte na língua indígena tukano, com as obras do tailandês Apichatpong Weerasethakul, conhecido pelas narrativas não-lineares, que incorporam elementos mitológicos e fabulares.

Ainda no domingo (24), uma adaptação da peça de Nelson Rodrigues "Boca de Ouro" dirigida por Daniel Filho foi exibida fora de competição. Marcos Palmeira vive o lendário bicheiro carioca com dentes de ouro maciço, enquanto Malu Mader é Dona Guigui, sua amante amargurada.

Tal qual no texto original, ela reconta a um jornalista três vezes a mesma história, o assassinato do malandro Leleco (Thiago Rodrigues) depois do envolvimento de sua mulher, Celeste (Lorena Comparato), com Boca de Ouro. Também as interpretações são bastante teatrais, uma opção do diretor, segundo Comparato —nem Daniel Filho, nem Malu Mader vieram à Brasília.

No debate após a sessão, muitas das perguntas do público giraram em torno de como lidar hoje com o machismo do universo rodriguiano, povoado por machões convictos e ninfetas lascivas, reproduzido na adaptação.

Outro favorito ao Candango nesta edição do festival é "Piedade", novo filme de Cláudio Assis —três de seus quatro longas anteriores venceram o prêmio. Primeiro título da mostra competitiva a ser exibido, no sábado (23), a produção traz Matheus Nachtergaele como um executivo sem escrúpulos, que desenterra um segredo doloroso para convencer uma família a aceitar a indenização da petrolífera em que trabalha.

Fernanda Montenegro, Irandhir Santos e Cauã Reymond completam o elenco—o último, num papel homossexual— do filme, cujo título faz referência à cidadezinha fictícia onde vivem, atacada por tubarões desde a construção de um porto pela tal petrolífera.

Uma situação não muito diferente do porto de Suape, em Pernambuco, como lembrou Assis ao apresentar o filme. O cineasta também citou o vazamento de óleo nas praias do Nordeste.

Além deles, competem pelo Candango as ficções "Alice Júnior", de Gil Baroni, "Loop", de Bruno Bini, e "Volume Morto", de Kauê Telloli, além dos documentários "O Tempo que Resta", de Thaís Borges e "O Mês que Não Terminou", de Francisco Bosco e Raul Mourão.

A premiação está marcada para o próximo sábado, dia 30, um dia antes do término do evento.

A jornalista viajou a convite do Festival de Brasília

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