Descrição de chapéu Artes Cênicas

Musical mostra estilo de vida coletivo dos Novos Baianos sem panfletagem

Lucio Mauro Filho assina texto e Otavio Muller, a direção de espetáculo que estreia nesta sexta

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São Paulo

​Em pé na escadaria do teatro Antunes Filho, no Sesc Vila Mariana, Carlinhos Brown esfrega as mãos e espreme os lábios, empolgado com o que vê. Dois de seus filhos estão no palco durante o ensaio de “Novos Baianos”, musical de Lucio Mauro Filho que remonta à trajetória da banda homônima, uma das mais influentes da música brasileira.

Bem diferente do formato tradicional e rígido dos musicais americanos, o espetáculo dirigido por Otavio Muller transcorre de um jeito solto, entrecortado por interações com o público e enriquecido pelo improviso. Diz Mauro Filho que a ideia era essa: “Com todo o respeito à Broadway, a gente tinha que fazer um musical brasileiro”.

Coletividade, amor à música e ao futebol e a forma pouco tradicional de vida que o grupo levava são aspectos que ele procurou ressaltar. “Os Novos Baianos foram viver juntos, criaram seus filhos ao mesmo tempo, com o mesmo dinheiro, com a mesma estrutura, eles são a prova viva de que a coletividade funciona”, diz.

 

Sobre a perseguição enfrentada pela banda em alguns episódios ao longo da carreira, sobretudo durante a ditadura militar quando foram detidos na Prisão da Misericórdia, em Salvador, Mauro Filho conta que tentou retratar a questão sem discursos inflamados.

“Teve um cuidado para não ficar panfletário, até porque os Novos Baianos venceram a repressão pelo drible, o jeito deles era enfrentar e debochar, com jogo de cintura e bom humor. Um projeto como esse no momento em que a gente está vivendo pode ser armadilha para a pieguice, para o discurso, e a gente não precisa do discurso, a gente precisa do bom senso”, afirma.

Herdeiros diretos do legado da banda, Pedro Baby, filho de Pepeu Gomes e Baby Consuelo, e Davi Moraes, filho de Moraes Moreira, assinam a direção musical do espetáculo, no qual toda a trilha é tocada ao vivo, pelo elenco.

Emocionados, eles contam que a peça consegue, de alguma maneira, reproduzir o processo criativo da banda, indissociável de seu estilo de vida. “Como é que era o ensaio? ‘A vida era o ensaio’, meu pai falava”, lembra Moraes.

 

Desafiador mesmo, os dois contam, foi manter a fidelidade aos arranjos originais —com poucos instrumentos e, ainda assim, encorpados— no repertório em que predominam faixas de “Acabou Chorare” (1972) e “Novos Baianos F.C.” (1973), lançados na ditadura.

Por isso, foi preciso não só atores, mas bons músicos. Moraes e Baby filhos tiveram forte influência na escolha dos pouco mais de dez jovens, todos na faixa dos 20 anos, coordenados por Johayne Hildefonso, preparador que adicionou trejeitos e tiques dos artistas ao elenco, que anda sempre em bando.

O espírito comunitário está em tudo, especialmente na autoria do cenário e do figurino, assinados pelo coletivo de artistas plásticos cariocas Opavivará!. Já com 15 anos de estrada, o grupo trouxe quase todas as cores para o palco. Estão em redes, cadeiras de praia, máscaras de animais e parangolés. Não satisfeitos, montaram também um disco voador.

Formado por Baby Consuelo, Moraes Moreira, Galvão, Paulinho Boca de Cantor e Pepeu Gomes, entre outros integrantes que chegaram a participar em alguns momentos da festa, os Novos Baianos ainda fazem algumas apresentações esporádicas pelo Brasil.

Novos Baianos

  • Quando Qui. a sáb., às 21h. Dom., às 18h. Até 15/12
  • Onde Sesc Vila Mariana, r. Pelotas, 141, Vila Mariana
  • Preço R$ 15 a R$ 50
  • Classificação 14 anos
  • Elenco Barbara Ferr, Miguel Freitas e Ravel Andrade
  • Direção Otavio Muller
  • Texto Lucio Mauro Filho
  • Direção musical Davi Moraes e Pedro Baby
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