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Separação do Skank é sintoma de esgotamento da geração dos anos 1990

Bandas da década, diante da dificuldade de vender discos e lotar shows, estão se desmanchando

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O anúncio do fim de atividades do Skank no próximo ano, divulgado por Samuel Rosa, é muito sintomático do esgotamento de força da geração roqueira dos anos 1990 no mercado musical. Seus principais nomes vivem agora uma realidade de desmembramento.

O Skank passa a fazer parte de bandas que, diante da dificuldade de vender discos e lotar shows, estão se desmanchando ou, pelo menos, perdendo integrantes e, com eles, também sua personalidade.

Samuel Rosa atuando sozinho é um pouco como ver e ouvir Marcelo Falcão sem O Rappa. Ou Raimundos sem Rodolfo. Marcelo D2 sem Planet Hemp, Max Cavalera sem Sepultura.

Em alguns casos, mesmo quando o grupo não acaba de vez, há uma espécie de rebaixamento da equipe em função da carreira solo de alguém. Exemplo perfeito é a trajetória recente do Pato Fu.

A banda mineira tem praticamente se dedicado ao projeto infantil "Música de Brinquedo". O trabalho, digamos, adulto, está ofuscado pelos discos solo de Fernanda Takai, que vão de uma parceria com o guitarrista inglês Andy Summers, ex-Police, a um ótimo álbum gravado ao vivo no Instituto Inhotim.

Uma conferida nas paradas de sucesso dos anos 1990 vai exibir grupos que hoje estão encerrados, parados ou com suas formações deformadas: Raimundos, Planet Hemp, Pato Fu, O Rappa, Nação Zumbi, Charlie Brown Jr., Sepultura.

Se toda regra tem uma exceção, esta apresenta uma bem grande: Jota Quest, que mantém a formação original e ainda tem agenda cheia. Mesmo assim, enfrenta o esvaziamento das grandes arenas para o pop rock. Sertanejo, funk e sofrência não estão deixando espaço para ninguém.

Talvez o problema crucial dessa geração 90 seja a agenda de shows. Porque há tempos ninguém está vendendo disco, esse mercado acabou. Na venda digital, o público é jovem demais, tem muita oferta de música novíssima para dedicar algum tempo a uma pesquisa arqueológica sobre bandas de tiozão.

Nos últimos tempos, as apresentações ao vivo, mesmo redimensionadas para espaços menores, são a maior fonte de renda desses artistas que despontaram há 25 anos. Mas até isso está mudando.

Basta acompanhar os shows desses grupos numa cidade como São Paulo para perceber que as plateias não estão mais abarrotadas, nem em teatros de unidades do Sesc com pouco mais de 300 lugares.

O público original das bandas que apareceram nos anos 1990 está quarentão, alguns já na transição para os 50 anos. Período normalmente associado a intensa atividade profissional e tempo dedicado aos filhos. Então é compreensível uma grande preguiça na hora de sair de casa para ver um show.

Além de ter menos espaço, a geração dos anos 1990 está disputando público maduro com os nomes persistentes surgidos na década anterior. E o quadro atual das duas levas de bandas é muito parecido.

Para Titãs, Ira!, Plebe Rude, Paralamas, Blitz e alguns outros, o cenário também exibe shows em lugares menores, venda de discos nula e algumas lacunas irreparáveis nas formações originais. Como os Titãs, reduzidos a três dos oito integrantes do grupo que estreou nos anos 1980.

Paralelos podem ser feitos. Marcelo Bonfá e Dado Villa-Lobos revivendo Legião Urbana no palco sem Renato Russo é um pouco como a Nação Zumbi tendo de lidar com o legado de Chico Science. Há uma correlação até na exceção: o Jota Quest da geração 1980 é o Capital Inicial, que não teve medo de reciclar a temática adolescente nas letras e segue encarando plateias enormes em festivais.

A justificativa para considerar o caso do Skank como um sintoma mais agudo dessa perda de prestígio comercial dos roqueiros dos anos 1990 vem do público alvo da banda mineira. Poucos nomes no showbizz brasileiro falaram diretamente a um público tão amplo.

O Skank é rock, mas é também reggae, ska, dancehall, batucada brasileira, pop romântico com apelo para tocar em qualquer radinho. Pode levantar um estádio com "Uma Partida de Futebol", servir como trilha de namoro com "Te Ver", animar baile com "Garota Nacional" ou atrair fãs de MPB mais cabeçuda com "Resposta".

Skank é o tipo de banda que seu sobrinho de seis anos e sua avó podem escutar e gostar. Quando fica evidente o esgotamento de um grupo com um público tão amplo, é aquilo que se convencionou chamar de sinais dos tempos.

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