Descrição de chapéu Ao Vivo em Casa Moda

Estilista Isaac Silva diz que moda precisa falar sobre o Brasil afro e indígena

Baiano participou do Ao Vivo em Casa ao lado da modelo Erica Moreira para debater racismo e representatividade

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São Paulo

O estilista Isaac Silva e a modelo Erica Moreira discutiram o racismo e a representatividade na moda em participação no Ao Vivo em Casa, série de lives da Folha, nesta sexta-feira (17). A conversa teve mediação do repórter Pedro Diniz.

Apesar de avanços recentes, Silva destacou que o mercado de moda brasileiro precisa ampliar sua diversidade. "Já se fala muito da cultura europeia branca, mas pouco se fala do Brasil preto, do Brasil afro, do Brasil indígena", afirma.

Segundo ele, foi difícil conquistar seu espaço no setor. "Quando a gente fala de preconceito racial, eu que trabalho com moda me vi num ambiente em que não se falava de cultura negra na universidade. Eu nunca vi representatividade", diz.

"O mercado da moda não me absorveu, e como eu não quis desistir do sonho de ser estilista, eu construí a minha marca." Hoje, Silva é dono de uma marca própria e faz parte de uma nova geração de designers brasileiros que está disposta a resgatar os traços da cultura ancestral do país.

Erica Moreira também enfrentou obstáculos para se integrar a um mercado dominado por corpos brancos. Modelo da HDA Agency, agência que completa 20 anos como a primeira do Brasil a se dedicar exclusivamente à carreira de modelos negros, ela já emprestou o rosto para campanhas publicitárias de beleza, telefonia e automóveis.

Durante a live, ela lembrou um caso no início de sua carreira, quando percebeu olhares preconceituosos durante uma seleção de modelos. "Eu notei uma pessoa me observando, não com um olhar de estar elogiando, achando bonita. Era um olhar feio, de 'sai daqui'. Na época eu era bem nova, desisti do casting e fui embora, superchateada, chorando."

Outro problema comum que ela já enfrentou é o despreparo de profissionais da área para lidarem com peles não brancas. "Modelos negras levam a própria maquiagem aos desfiles, porque os maquiadores não estão preparados para maquiar peles negras", afirma.

Moreira também comparou os mercados fashion —o das passarelas— e publicitário, no qual atua. Segundo ela, a publicidade está se abrindo mais para a diversidade, mas ainda está longe de um patamar ideal de representação.

"O mercado fashion pede mais altura, uma medida [ideal], a publicidade não pede tanto isso. Na minha opinião, entra aí a questão do fenótipo, porque a publicidade quer a mulher negra em alguns casos, mas não necessariamente aquela mulher bem preta, com o cabelo crespo. Ela quer a mulher com o cabelo cacheado, o nariz menorzinho", afirma.

Silva complementou questionando o discurso de que produtos e campanhas voltadas aos negros não trazem retorno financeiro. "Eu venho de um mercado que diz que modelos negros não vendem, que o mercado negro não vende. Mas como não vende se nós somos 54% da população e nós consumimos?"

"O mercado de moda é muito racista, e no mundo em que a gente vive, não tem mais como as marcas serem racistas. Muitas dizem que não são, mas se você olha para essa marca, você vê que não tem representatividade", diz o estilista. "O mercado da publicidade caminha aos poucos [para a maior diversidade], mas a gente precisa olhar dentro das empresas que se dizem diversas, porque normalmente quem ocupa os cargos são homens brancos."

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