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Filme tenta atacar o urbanismo falho de SP, mas resulta em cacofonia

No afã de cobrir diferentes aspectos da capital paulista, documentário de João Farkas carece de articulação

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São Paulo, Uma Cidade Segregada

  • Quando No ar sábado (21), às 19h. Reprise no domingo (22), às 12h
  • Onde BandNews TV
  • Produção Brasil, 2020
  • Direção João Farkas

É madrugada escura ainda quando Adriana Ramos sai de casa com a filha. Depois de deixar a menina na casa da mãe, às 5h50, ela se encaminha para o ponto a fim de pegar o ônibus para o serviço.

É o primeiro apenas. Seu périplo diário até o trabalho envolve sete conduções, que a levarão a atravessar 55 quilômetros da cidade, do Jardim Helena, na zona leste de São Paulo, até o Jardim São Luís, na zona sul, em três horas. Só para ir.

Sentados no sofá de casa, ficamos cansados só de ouvir sua descrição do trajeto nas cenas que abrem “São Paulo, Uma Cidade Segregada” e resumem, de forma impactante e eficiente, seu tema —a expansão desordenada da megalópole.

O documentário de João Farkas toca todos os principais aspectos da questão. Estão contemplados não só os longos deslocamentos mas também os efeitos sobre a qualidade de vida das pessoas obrigadas a eles; o preconceito contra quem mora longe, nos extremos da cidade; o custo do metro quadrado nas regiões com melhor infraestrutura; a ameaça ambiental.

Nesse sentido, é uma aproximação bem-vinda a uma questão que aflige todos os dias os que habitam as bordas da cidade e que todos os dias é varrida para sob o tapete dos que vivem no seu centro.

Exibido na TV e em plataformas de streaming, pode servir como porta de entrada para que o espectador tome consciência de que, por mais que pareça uma cidade cinza e compacta, São Paulo é, na verdade, pouco densa, e essa baixa densidade cobra um preço altíssimo de seus habitantes.

O problema é querer dar conta de uma questão tentacular como essa em menos de 40 minutos de duração. A tentativa de contornar esse revés se dá, em termos estéticos, por sobreposições de informação visual e falada.

As camadas de informação retratam, de certa forma, a sinfonia da megalópole; mas isso nem sempre trabalha a favor do todo.

As cenas aéreas sobre as quais se projetam as opiniões dos entrevistados impressionam mesmo quem conhece São Paulo. Elas funcionam como recurso de transição entre diferentes depoimentos, de forma a dar unidade ao filme.

Por outro lado, porém, as imagens se mostram um pano de fundo um tanto quanto dispersivo. Somadas à música e à pletora de informação que vai sendo narrada em “voice over”, sem que se localize quem fala, acabam criando um efeito dissonante.

Mais eficientes são os gráficos, visualmente bem resolvidos, que poderiam ter sido mais explorados como recurso de apoio à assimilação da informação.

Não funcionam da mesma forma as colagens de imagens de reportagens de jornal e narrações de TV, palavra falada sobre palavra escrita resultando em cacofonia.

Em vez de fazer um recorte vertical, que aprofundasse a questão, o filme, como São Paulo, se espraia, sobrevoando diferentes assuntos, sem neles mergulhar de fato.

A cidade precisa, sim, se adensar; os recursos audiovisuais do filme, em contrapartida, funcionariam melhor com algum respiro entre si.

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