João Farkas mostra em Londres o Pantanal do paraíso à destruição

Exposição na Embaixada Brasileira traz 40 fotografias inéditas com formas e dimensões vertiginosas da região

Leão Serva
São Paulo

O fotógrafo brasileiro João Farkas apresenta a partir de desta quinta (1º), em Londres, uma série de imagens do Pantanal, produzidas ao longo dos últimos cinco anos.

As fotografias exploram um olhar diferente sobre a região localizada na região Centro-Oeste: em vez das fotos exuberantes de animais típicos daquele ecossistema, como onças, jacarés e tuiuiús, Farkas produz imagens amplas, muitas delas aéreas, que parecem abstratas no primeiro momento e depois causam uma espécie de vertigem, quando o espectador se dá conta da amplidão da cena.

A exposição chamada “Brazil: Land and Soul” (Brasil, terra e alma) é composta de 40 fotos inéditas do Pantanal, na galeria principal da Embaixada do Brasil. 

As imagens fazem parte de um conjunto de cem escolhidas para compor um livro previsto para o primeiro semestre do próximo ano. O impacto delas é potencializado pelas ampliações em grandes formatos, como 3 x 2 metros. 

Em outra sala no mesmo prédio, estão expostas imagens de foliões mascarados do Carnaval na Bahia, editadas no livro “Caretas de Maragojipe” (Inst. Olga Klos, 2018).

Em 2015, Farkas havia exposto fotografias feitas na Amazônia nos anos 1980 e 1990. Também ali desafinava o estilo predominante: em vez da natureza, do “inferno verde”, suas imagens destacam cenas de destruição. 

Quando se preparava para lançar aquela mostra, viajou ao Pantanal e, impressionado com a região, passou a realizar visitas regulares, nas quais documentou em proporções iguais a natureza “virgem”, áreas de ação humana “discreta” e outras onde a destruição era acentuada.

“Eu resistia ao Pantanal porque achava que já o conhecia por fotos. Eu tinha o que chamo de uma cegueira cognitiva, achando que a região era formada por infinitas lagoas, pores do sol, jacarés, onças, tuiuiús e outros pássaros. Então pensei: já está suficientemente fotografado”, diz Farkas. 

Mas a visão do lugar transformou completamente sua percepção: “Minha surpresa foi brutal e resultou num trabalho extenso e muito diferente do que eu fizera até então”.

Os dois projetos têm em comum a dualidade homem versus natureza. Em “Amazônia Ocupada”, ela se manifesta de forma “direta e crua”, ou, como diz Farkas, “é uma história épica de como o Brasil está ocupando metade de seu território. Os dramas dos pioneiros atrás de seu próprio destino, procurando fortuna, e seu embate com a natureza, que entra ou como pano de fundo ou agredida por garimpos, desmatamentos, estradas e queimadas”.

Já no Pantanal a história é diferente. “Primeiro porque a presença humana é muito esparsa, depois porque as ameaças vêm de fora, pelas águas, em decorrência da maneira como estamos tratando os rios no seu entorno, e pelas mudanças climáticas, que causam o assoreamento repentino de rios que transbordam.”

Esse fenômeno fica visível nas fotos da região do rio Taquari, que já inundou permanentemente 1,5 milhão de hectares, ou 10% do território pantaneiro. Ali, as águas não baixam mais quando vem a seca. Grandes trechos da floresta estão mortos, porque as árvores não estão acostumadas a viver permanentemente com as raízes dentro da água.

A surpresa inicial com as formas e dimensões do Pantanal ajudou o fotógrafo a definir o estilo das fotos que iria produzir, buscando uma linguagem nova para suas imagens. “Era fundamental ir muito além das imagens-clichê. E a saída que encontrei foi uma viagem profunda na visualidade pantaneira. Quase uma vertigem”

João Farkas é de uma família de artistas visuais. O pai, Thomaz (1924-2011), foi uma referência na fotografia moderna no Brasil; um irmão, Kiko, é artista gráfico; outro, Pedro, é cineasta; e o sobrinho Deco é uma referência do grafite em muros paulistanos.

As fotos da Amazônia foram produzidas quando era repórter-fotográfico nos anos 1980. Em 2010, ao digitalizar os fotogramas, para melhor conservá-los, decidiu expor o trabalho. “O Paulo Herkenhoff, que fez a curadoria, me disse algo curioso: foi sorte não ter publicado o material como ‘jornalístico’ na época, porque 20 anos depois ele ganhou uma força ‘histórica’.”

Por ocasião da abertura da mostra londrina, a Embaixada promove uma mesa de debate com o tema A Preservação do Pantanal, Maravilha Natural do Brasil.

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