Qual é a distância entre o homem e a natureza? O que os reúne? "Os Lobos do Leste" aborda estas perguntas que resistem a repostas.
As imagens majestosas que abrem o filme apontam para a utopia da harmonia. Uma estrada sobre imensos pilares integra a paisagem e mostra que é possível equilibrar intervenção humana e ambiente.
No ônibus de turismo que cruza a estrada a guia explica que a vila de Higashiyoshino é conhecida pelas histórias de lobos. Como eles foram extintos na região, os caçadores controlam a população de cervos, que pode causar danos às árvores locais.
A menção a Naomi Kawase como produtora executiva nos créditos de abertura não passa despercebida ao público familiarizado com o cinema japonês contemporâneo.
Os documentários e ficções sensoriais e panteístas da realizadora evocam o suposto elo perdido entre os humanos e a natureza, exploram a harmonia primordial como alternativa a um presente marcado pelo esgotamento das forças.
"Os Lobos do Leste", do cubano Carlos Quintela, transita em universo semelhante.
O personagem Akira é um velho caçador, obcecado pela busca de um último lobo na floresta. Como o animal, Akira é também resíduo, derradeiro representante de uma espécie cujas habilidades foram superadas pela introdução de tecnologias que dispensam a engenhosidade humana.
Akira ecoa o Dersu Uzala de Kurosawa e, como ele, atua como um mediador, um humanizador do que consideramos selvagem. Se o discurso acerca da obsolescência humana e da tragédia do envelhecimento já agrega nobreza ao filme, Quintela não se contenta só com essa mensagem.
A presença magnética de Tatsuya Fuji, o Kichizo de "O Império dos Sentidos", serve de elo entre dois mundos.
Por meio do corpo de seu ator, o filme se embrenha na floresta, capta seus ritmos, sua luz própria, seus sons e estende seu poder sobre nós.
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