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Amazon pressiona editoras por descontos de quase 60%, e mercado reage em bloco

Grupo que reúne mais de cem editoras diz que varejista se aproveita da crise das grandes livrarias

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São Paulo

Uma carta recente da Amazon pedindo a editoras descontos maiores na venda de seus livros para a empresa vem deixando tenso o mercado editorial, que está reagindo em bloco para barrar a proposta.

Em email do dia 10, o gigante eletrônico sugere a editoras que ofereçam descontos entre 55% e 58% sobre o preço de capa de seus livros, mais uma taxa adicional de 5% para o “plano de marketing”, ou seja, a publicidade dentro do site da Amazon, a exemplo do banner de um livro.

A praxe dos fornecedores hoje é vender para a Amazon com descontos que variam entre 45% e 55% do preço de capa do livro, mais 2% ou 3% do plano de marketing, por vezes não paga por editoras menores.

Cliente escolhe livro na Livraria Megafauna, em São Paulo - Karime Xavier / Folhapress

Na prática, o desconto maior almejado tiraria parte importante dos lucros das editoras, que tradicionalmente trabalham com uma margem pequena, chegando a 4% ou 5% para editoras menores. Além disso, as casas estão cada vez mais dependentes do comércio eletrônico, não só devido à pandemia, mas também pela deterioração do mercado livreiro nos últimos anos, com a falência da rede Laselva e o longo processo de recuperação judicial da Cultura e da Saraiva, que já fecharam dezenas de lojas no Brasil todo.

O setor livreiro está se posicionando em massa. O grupo Juntos pelo Livro —que reúne 130 editoras de pequeno e médio porte como Ubu, Boitempo, Cobogó e Senac— elaborou uma carta na qual diz ser inviável conceder descontos maiores, pois “as condições solicitadas estão muito além das nossas possibilidades”. Cada editora está enviando individualmente o documento como resposta à Amazon.

A carta do Juntos pelo Livro também reconhece a importância da varejista como parceira comercial, afirmando que ela promove “significativo crescimento nos negócios de todas as editoras”.

"Ninguém quer estabelecer uma guerra contra a Amazon, que é um dos ‘players’ mais relevantes do mercado livreiro”, diz Henrique Farinha, porta-voz do Juntos pelo Livro. Segundo o editor, a ideia do grupo é que as condições de descontos com a Amazon se mantenham como estão.

As novas propostas de descontos e taxas, porém, parecem ter chegado apenas para as médias e pequenas. Grandes editoras procuradas pela reportagem dizem não ter recebido, por enquanto, pedidos de renegociação das cláusulas dos acordos com a Amazon.

Segundo Farinha, a Amazon se aproveita da grande capacidade que tem de gestão e distribuição e do fato de as grandes livrarias do Brasil estarem fazendo água. Em seu email, a varejista justifica o pedido afirmando que inaugurou quatro novos centros de distribuição no país —o que permitiria a entrega em até dois dias em 600 cidades. As editoras rebatem que tiveram aumento de custos com logística por precisarem remeter os livros para endereços diferentes.

Em nota, a Amazon afirma que não comenta acordos específicos com seus parceiros comerciais. Também diz acreditar que “autores, editores e livreiros trabalham juntos para conectar os leitores aos livros”.

Há uma outra questão. Caso as editoras concedam descontos maiores para a varejista, é provável que as distribuidoras de livros e as livrarias também passem a exigir os preços menores, impactando todo o mercado. "É importante os editores estarem unidos, porque este caso pode ter vários desdobramentos”, acrescenta Farinha.

Embora esse tipo de pressão da Amazon seja inédita no Brasil, não é de hoje que uma das empresas mais poderosas do mundo briga com as editoras. Em 2015, a HarperCollins dos Estados Unidos ameaçou retirar todos os seus livros do site da varejista durante a negociação de um novo contrato entre as partes. No ano anterior, o grupo editorial francês Hachette venceu uma batalha de meses contra a Amazon, retendo a possibilidade de determinar o preço de seus ebooks.

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