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'Minari' não tem grandes emoções e só reforça a ideia de mito americano

Longa que concorre a seis troféus no Oscar com direção de Lee Isaac Chung tem um roteiro de mão dupla

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Minari - Em Busca da Felicidade

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  • Elenco Steven Yeun, Yoon Yeo-jeong, Alan S. Kim e Han Ye-ri
  • Produção EUA, 2020
  • Direção Lee Isaac Chung

Em “Minari - Em Busca da Felicidade” estamos longe da saga dos imigrantes miseráveis que chegam aos Estados Unidos. Jacob Yi é, antes, um apaixonado pelas virtudes do modo de vida americano e, sobretudo, da possibilidade que tem de subir na vida com um negócio próprio.

Para tanto desloca a família para o estado de Arkansas, para tristeza profunda de Monica, sua mulher. Lá, Jacob os instala na pequena fazenda onde pretende cultivar hortaliças coreanas, com olho no mercado texano.

Como era de se prever, nem tudo sai conforme o esperado. Por exemplo, há que encontrar água. Um profissional se dispõe a encontrar poços, mas isso tem um preço. Jacob prefere, ele próprio, cavoucar a terra e encontrar a água.

Serão muitos os problemas que Jacob terá de encarar, de tufões à insatisfação da mulher, da saúde do filho à chegada da sogra, dos resultados minguados ao desaparecimento da água. Como estamos numa história sem grandes emoções, o roteiro prevê uma revoada de viradas para substituir o habitual crescendo.

Se tais viradas não tornam o filme mais emocionante, em todo caso o povoam. De repente entra em cena um crente amalucado, que aos domingos costuma carregar uma cruz nas costas. Ele será o braço direito de Jacob, o que cria certa tensão, na medida em que podemos sempre temer que ele vá aprontar algo que redundará em prejuízo irrecuperável para nosso fazendeiro.

Na verdade, este é um filme de mão dupla. Ao mesmo tempo em que elogia o homem que vem de fora para fazer a América e de algum modo contribui para sua grandeza, faz o resgate de valores bem americanos —o individualismo, a ambição, a possibilidade de vencer graças a um trabalho insano.

O roteirista e diretor Lee Isaac Cheung parece não acreditar muito nessa história, o que faz de “Minari” um filme meio desanimado e até certo ponto desanimador, na medida em que não sentimos nem mesmo à intenção de fugir do estritamente convencional.

O otimismo incurável de Jacob, Monica que briga com o marido que a leva para esse fim de mundo, a sogra que ora salva a situação, ora apronta —o que pode nos surpreender, o que pode nos aproximar dessa saga?

É verdade que estamos num ano atípico, em que para entrar no Oscar parece que o essencial era ter completado o filme. Aceitemos a situação e aceitemos até mesmo o filme, afinal visível. Mas a indicação a nada menos do que seis prêmios para “Minari” parece estar lá, antes de tudo, para que valorizemos alguns dos outros filmes (a começar, claro, por “Nomadland”, da chinesa Chloé Zhao). Ou, talvez, para afirmar, neste momento em que o cinema da Coreia do Sul experimenta reconhecimento mundial, que, afinal, nós também temos o nosso coreano.

América, terra de oportunidades. O mito em que Jacob tanto acredita ecoa na Academia de Hollywood.

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