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Renato Terra

Série realça várias visões sobre o documentário com formato simples

'Nós, Documentaristas', na Tamanduá.TV, traz entrevistas com Petra Costa, João Moreira Salles e outros cineastas

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Renato Terra

Roteirista do Conversa com Bial e diretor dos documentários 'Narciso em Férias', 'Eu Sou Carlos Imperial' e 'Uma Noite em 67'. Trabalhou na revista piauí até 2016 e foi o ghost-writer do 'Diário da Dilma'

Parte dos melhores documentários brasileiros está na Tamanduá.TV. Há ótimos filmes sobre o samba, por exemplo, como “Nelson Cavaquinho”, de Leon Hirszman, “Cartola - Música para os Olhos”, de Hilton Lacerda e Lírio Ferreira, e “Clara Estrela”, de Susanna Lira.

Algumas delícias, como “Onde a Terra Acaba”, de Sérgio Machado, “Palavra (En)Cantada”, de Helena Solberg, “José e Pilar”, de José Gonçalves Mendes e “Com a Palavra, Arnaldo Antunes”, de Marcelo Machado.

Há filmes sobre o universo de arquitetos, artistas, músicos, escritores, pensadores. O acervo do Canal Curta, que é excelente, está ali, entre outros. Há planos de assinatura mensal, a possibilidade de logar com a conta de TV a cabo ou ainda a compra de filmes avulsos.

A série “Nós, Documentaristas”, de Susanna Lira, traz entrevistas com diretores que pensam o documentário brasileiro. O formato é simples: num mesmo cenário, cada documentarista reflete sobre sua obra e conta um pouco sobre sua vida. Na edição, imagens de seus filmes são intercaladas.

O formato simples evidencia a saudável pluralidade de visões sobre o gênero documentário. E também mostra como as trajetórias pessoais, questões, valores e percepções de mundo acabam impressas na tela. Os diretores, retratados ali, sabem que os bons documentários nascem dessa fricção entre as inquietações íntimas e a realidade.

Para João Moreira Salles: “O documentário deve conseguir contar velhas histórias de novas maneiras. As pessoas acham que o documentário serve para mudar o mundo. Eu acho que o documentário serve para mudar o cinema”.

Moreira Salles reflete sobre a relação de poder entre diretor e entrevistado e afirma a responsabilidade ética de retratar uma pessoa num documentário. “As pessoas são inúmeros personagens. Você escolhe um e bota no seu filme. Portanto, é uma redução. E você tem que ter consciência desse trabalho que é feito por você, diretor.”

Para Joel Zito Araújo, “às vezes ser documentarista me parece uma coisa muito simples. E, em outras vezes, algo complexo e contraditório. É gostar de narrar, de inventar narrativas, de fazer descobertas, viagens. É uma tentativa de organizar o caos do mundo numa narrativa envolvente e estruturada. Mas, ao mesmo tempo, é ter coragem de deixar o caos do mundo vazar pelas brechas de sua história, para evitar passar a ideia de que a vida é uma coisa meio organizadinha, meio bonitinha. É compreender que sua meta é mostrar a realidade. Seja ela pessoal, social ou política. É alimentar em si mesmo e nos outros uma eterna revolta contra aqueles responsáveis pelas profundas desigualdades e opressões do mundo”.

A obra de Joel Zito virou um ponto catalisador do debate sobre racismo na sociedade, retratado em filmes como “A Negação do Brasil”, “Cinderelas, Lobos e um Príncipe Encantado” e “Raça”.

Para Vladimir Carvalho: “O roteiro de ficção é um ponto de chegada. E o roteiro de documentário é um ponto de partida. Aberto para a aventura. Uma janela escancarada para a realidade, para as pessoas. E sujeito às circunstâncias e mudanças de rumo. A gente não pode sair de casa para fazer documentário com uma ideia pré-concebida jamais”.

Emílio Domingos, diretor de “A Batalha do Passinho”, “L.A.P.A.” e “Deixa na Régua”, tem uma maneira particular de apresentar e debater o tema de seus filmes para os personagens. “Existe uma visão estereotipada do cinema como algo glamoroso, um longo tapete vermelho, muito distante da realidade cotidiana. Faço documentários porque acho que o cinema, ao contrário desse glamour, é uma extensão da vida.”

Domingos cresceu como filho de porteiro na Tijuca, no Rio de Janeiro. “Vivi o cotidiano da classe média ao mesmo tempo que a minha realidade estava mais próxima da escola municipal em que estudava com meus amigos. Isso ajudou a exercitar meu olhar.”

Há episódios também com Susanna Lira, Petra Costa, Lucia Murat, Teresa Jessouron, Cristiano Burlan, Aly Muritiba, Beth Formaggini, Vincent Carelli e Claudia Priscilla.

A influência de Eduardo Coutinho é marcante em muitas das entrevistas.

Vale a pena conferir o que dizem e pensam os documentaristas e depois navegar pelo catálogo da Tamanduá.TV para assistir aos filmes com um novo olhar.

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