Theatro Municipal investe em continuidade após troca de gestão tumultuada

Programação deste semestre segue linha adotada por Hugo Possolo em 2020, com ênfase em repertório moderno

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São Paulo

O Theatro Municipal de São Paulo anunciou, nesta semana, sua temporada para o segundo semestre deste ano. É a primeira feita pela Sustenidos, OS —isto é, organização social— que, à frente do Conservatório de Tatuí e dos polos do interior, litoral e da Fundação Casa do Projeto Guri, venceu um turbulento edital que se arrastou do final do ano passado até maio último.

Realizados com presença de público, mas adaptados aos tempos de pandemia, os espetáculos terão duração reduzida e número de espectadores limitado a 25% do total da capacidade das salas.

A programação leva o nome de “Liberdades Reinventadas”, já que a ideia, segundo os organizadores, é que os eventos promovam reflexões sobre a possibilidade de liberdade para diferentes indivíduos e coletivos. É um título amplo, mas coerente com a linha que já vinha sendo adotada desde que Hugo Possolo virou diretor artístico do Municipal —hoje ele é diretor-geral da Fundação Theatro Municipal de São Paulo.

Na prática, isso significa a ênfase no repertório do século 20, o diálogo com manifestações artísticas contemporâneas, preocupações com questões identitárias e um desejo de expandir a atuação do teatro para além de suas paredes centenárias.

Exemplos dessa orientação são o concerto do Quarteto de Cordas da Cidade de São Paulo, mesclando repertório erudito ao popular, em setembro; o projeto “Teatro no Theatro”, com produções teatrais voltadas para experimentações formais desenvolvidas durante a pandemia; e ainda a estreia de duas coreografias de Henrique Rodovalho em diálogo com a linguagem do passinho, com trilha sonora de Leo Justi e criação em vídeo do coletivo Heavy Baile, que o Balé da Cidade faz em outubro.

Mesmo que motivadas por efemérides, as duas óperas da temporada também reafirmam a predominância do repertório moderno, pouco frequente nas salas de concerto. Do argentino Astor Piazzolla, cujo centenário de nascimento foi comemorado neste ano, será apresentada "Maria de Buenos Aires". Levada ao palco entre os dias 10 e 19 de setembro, a montagem terá como estrela a soprano colombiana Catalina Cuervo, enquanto a encenação de Kiko Goifman promete utilizar técnicas de cinema ao vivo.

Já do russo Igor Stravinski, morto há 50 anos e personagem central da música no século 20, o Municipal leva ao palco, em novembro, "The Rake’s Progress", o progresso de Rake, que conta a trajetória de um jovem libertino na cidade de Londres.

Ambas serão apresentadas pela Orquestra Sinfônica Municipal, que faz, até dezembro, outros nove programas. Um dos destaques é o concerto que, também em novembro, mostra obras de autores pouquíssimo executados por aqui —os americanos Edgar Varèse e Charles Ives—, em diálogo com uma exposição que estará em cartaz na Pinacoteca do Estado.

O Municipal também celebra suas próprias datas. Uma delas, seus 110 anos de inauguração, será comemorada por meio do projeto Cine-Ópera, com projeções em grande escala em pontos estratégicos da cidade. No dia 12 de setembro, um percurso-instalação no prédio do Municipal contará com intervenções cênicas dirigidas por Daniela Thomas e Felipe Hirsch.

Já os 85 anos do Coral Paulistano serão lembrados em novembro com um concerto dirigido por Maíra Ferreira. A jovem maestra, que assumiu o posto de forma interina com a morte da titular Naomi Munakata por Covid no ano passado, acaba de ser oficializada regente titular do grupo.

Talvez o projeto que melhor ilustre o atual direcionamento estético do Municipal seja o “Novos Modernistas”, que propõe o cruzamento entre manifestações culturais e visa as comemorações do centenário da Semana de Arte Moderna, em 2022.

Com um leque amplo, os programas incluem uma apresentação dos waujá, indígenas do Alto Xingu, junto à obra "Icamiabas", de João Guilherme Ripper, em agosto; uma intervenção urbana em parceria com o coletivo Bijari, que levará ópera a lugares inusitados da cidade, em setembro; e ainda, em outubro, um espetáculo mesclando "A Voz Humana", ópera de Francis Poulenc com libreto de Jean Cocteau, a uma performance da "Ópera Aberta" para cantora e halterofilista, um clássico do teatro musical do compositor santista Gilberto Mendes.

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