Descrição de chapéu internet series

Quem são as aposentadas youtubers que falam de séries no canal Dona Gêek

Irmãs Genilda e Genilza, de 66 e 62 anos, dão dicas de animes e quadrinhos para seus seguidores

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Desde que a pandemia condenou a maior parte dos brasileiros e brasileiras a passar seus dias dentro de casa, inúmeras pessoas criaram canais de internet para divertir o público e, quem sabe, viralizar e ganhar dinheiro com isso.

Este jornal já contou, por exemplo, as histórias da Blogueirinha do Fim do Mundo, de Aquela Dupla e de A Vida de Tina.

A diferença delas para o canal do YouTube Dona Gêek é que as irmãs Genilda e Genilza Maria Gama Silva não são atrizes, mas sim duas tiazinhas aposentadas de Mauá, na Grande São Paulo, que comentam sobre séries, filmes, animações japonesas e todo o universo de personagens do mundo geek.

“Duas senhoras pretas periféricas falando de série? Mas isso não é coisa de jovem”, pergunta a mais nova, Genilza, de 62 anos. Genilda, de 66, responde: “Isso é coisa de quem gosta dessas coisas. E a gente gosta”.

Esbanjando simpatia e sempre sorridentes, Genilza e Genilda lançam um vídeo com até cinco minutos de dicas por semana, elogiando seus programas preferidos, mas também metendo o pau nas produções de que não gostam. Na maioria deles, estão sentadas na mesa da cozinha com a toalha posta para o almoço.

Genilda é a maior fã do Batman e gosta especialmente dos desenhos com o personagem. “Ia tatuar o bat-sinal no meu braço quando chegou a pandemia”, lamenta ela, que deve seguir com seu plano no ano que vem.

“Eu nem sabia que a gente era considerada geek”, diz Genilza. Para quem não conhece o termo, ela explica. “É aquela pessoa que vive no mundo dos games e dos quadrinhos”, esclarece ela, que assiste a seus programas nas plataformas do Telecine, HBO Max, Netflix, Disney+ e Amazon Prime Video.

“Não somos especialistas”, elas deixam claro. “Não falamos da parte técnica, como direção. Dizemos apenas se gostamos ou não e por quê.” Para não se perder no meio de tanta série disponível hoje, cada uma mantém um caderninho em que anota o que anda assistindo.

Genilda está maratonado “Blue Exorcist”, anime de monstros da Netflix. Já Genilza anda envolvida com a série “Loki”, na Disney+. Dentre as melhores séries, destacam “Law & Order”, por “enfocar a violência contra a mulher”. E o que elas odeiam: “Os live-action de 'Dumbo' e do 'Rei Leão'. Estragaram os filmes quando colocaram atores. Os desenhos originais eram muito melhores”.

Nascidas na Paraíba, as tias geek são filhas de um carregador de caminhões e de uma costureira e faxineira e chegaram a São Paulo com quatro e nove anos. A mais nova se casou, não teve filhos, foi funcionária da Secretaria de Educação e da área ambiental de Mauá. Já Genilda, divorciada com três filhas e um filho, foi costureira e caixa de loja do Brás.

As duas são vizinhas de casa e dividem o mesmo quintal. Mas durante toda a vida, elas gostaram de quadrinhos e cinema. A mãe delas, inclusive, era craque em videogame de cartuchos.

Há dois anos, quando Janaína Monteiro, uma das filhas de Genilda, propôs filmar as “conversas gostosas” que as senhoras tinham na mesa da cozinha, elas acharam que não deveriam. Acabaram vencidas pela insistência da moça. Monteiro é professora de geografia da rede municipal, mas também cuida do laboratório de educação digital da escola, o que garantia a ela experiência de gravação e montagem.

Para ganhar dinheiro com o Dona Gêek, entretanto, ainda falta um bocado. Segundo Janaína, há duas condições hoje para que o YouTube comece a pagar pelo conteúdo. O canal precisa ter pelo menos mil inscritos e ter 4.000 horas de visualização de seus vídeos.

Com quase 4.000 seguidores, a primeira condição já está satisfeita. “Mas temos apenas 900 horas de visualização por enquanto”, diz Monteiro. A dupla também tem sua conta no Instagram, com quase 3.000 seguidores, e que serve basicamente para divulgar o canal do YouTube.

Genilda e Genilza louvam os novos tempos, em que as plataformas de streaming tornaram essa diversão do espectador mais acessível. “Há pouco tempo, não tínhamos condições de ver tanta coisa, por dificuldade financeira. Sabemos que a maioria dos aposentados não tem muitas condições para se divertir, mas mostramos que com pouco é possível”, dizem.

A única coisa que as irmãs geek não gostam nesse universo é a parte dos videogames, que a mãe delas tanto gostava. E olha que tentaram. “Fui jogar 'Paciência' no computador”, conta Genilda. “Mas não tive nenhuma paciência com aquilo.”

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.