Descrição de chapéu

Sérgio Mamberti respondia aos autores com atuações firmes

Ainda jovem, com sua presença sólida e clássica, impressionava mesmo ao lado de grandes nomes como Raul Cortez

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Em depoimento a Walter Porto, dois anos atrás, Sérgio Mamberti recordou sua "formação bem tradicional de teatro" na Escola de Arte Dramática, na virada dos anos 1950 para os 1960.

A EAD ainda estava presa ao ensino clássico de seu modelo, o Conservatório Nacional de Arte Dramática de Paris. "O personagem era construído por meio da análise de texto, das leituras de mesa, não existia laboratório", detalhou ele na autobiografia "Senhor do Meu Tempo", em coautoria com Dirceu Alves Jr., lançada pela Edições Sesc neste ano, com 376 páginas.

No depoimento a este jornal, Mamberti citou a formação para contrastar com a construção, muito diversa, de seu personagem historicamente mais celebrado, o Juiz de "O Balcão", que estreou na virada de 1968 para 1969, após seis meses de ensaios de grande demanda física.

O crítico teatral Sábato Magaldi publicou à época que, mesmo ao lado de grandes atores como Raul Cortez, o então jovem Mamberti "impressiona mais". E que sua vantagem —curiosamente— era "um domínio vocal admirável, que serve melhor às falas de Jean Genet, clássico pelo esplendor da linguagem".

No fundo, era ainda resultado da formação tradicional e exaustiva, dos quatro anos de EAD. E de certa maneira foi também o que o público acompanhou pelas décadas seguintes, com atuações firmes, em papéis dramáticos e cômicos que respondiam, antes de mais nada, ao que os autores pediam.

Não que ele não tenha buscado outros caminhos de interpretação, seja trabalhando Stanislávski com o Teatro de Arena, de Augusto Boal, ou Brecht com o Antônio Abujamra recém-chegado do Berliner Ensemble.

A partir dos anos 1990, quando me foi possível acompanhar as atuações, era a presença sólida e clássica de Mamberti, por exemplo, em "Pérola", de Mauro Rasi, que permitia à atriz Vera Holtz se desprender do realismo e entrar pela tragicomédia tão marcante, em vários momentos do espetáculo.

A personagem-título, da mãe, se mantinha em grande parte como um espectador do conflito intermitente entre pai e filho, dominado pelo primeiro, na atuação rigorosa de Mamberti, sempre à vontade em cena. Ficaram cinco anos em cartaz, com a peça que estabeleceu Rasi como autor.

Posteriormente, "Visitando Sr. Green" foi uma peça mais superficial, quase um teledrama do americano Jeff Baron, mas com um papel que o ator soube explorar, de um velho ranzina e preconceituoso —e engraçado, nas mãos de Mamberti— em convívio forçado com um jovem homossexual.

Surgindo num momento em que começavam a ser percebidos os traços da regressão moral e política do país, a montagem e o personagem ganharam um significado político que o texto, em si, não oferecia. Novamente, um sucesso que voltou seguidamente ao cartaz.

Mais recentemente, atuou com o destaque usual em "Um Panorama Visto da Ponte", de Arthur Miller, peça que retrata a degradação social e das relações familiares na região portuária de Nova York, diante das pressões econômicas crescentes do pós-guerra.

Mamberti fazia o advogado e narrador da tragédia anunciada, contra a qual seu personagem se levanta, buscando contornar, mas à qual também termina por se resignar. Foi com ele que o público se deixou tomar de emoção, no clássico redescoberto do realismo americano.

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