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Cinema

Mostra de SP celebra Paulo Rocha, mestre do novo cinema português

Cinesta portuense lançou, em 1963, 'Verdes Anos', um de seus filmes mais famosos

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O cineasta homenageado com uma retrospectiva neste ano não chega a ser uma dessas descobertas da Mostra que depois vão fazer sucesso pelos festivais do mundo. Ao menos será improvável, já que Paulo Rocha morreu há nove anos, na cidade do Porto, onde nasceu em 1935.

Sua importância, no entanto, já está consolidada e data de 1963, quando seu "Verdes Anos" inaugurou o movimento que ficou conhecido como novo cinema português. E "Verdes Anos" é, efetivamente, um achado. Sua história gira em torno de Júlio, jovem sapateiro que chega a Lisboa, vindo da província, e seu encontro com Ilda, jovem e graciosa criada.

A sinopse não diz nada, a rigor, sobre o que o filme tem de encantador. Antes de chegar a ele convém esclarecer que esse filme nasce do intenso movimento cineclubístico existente em Portugal nos anos 1950, que levaram Rocha a estudar na França e a realizar um filme leve, quase sempre suave, sobre o florescimento, evolução e morte de um amor.

O tom lembra muito a nouvelle vague. Embora se trate de mostrar a gente pobre, os amores, encontros, desilusões dão o tom. E as descobertas –Júlio descobre Lisboa com olhos frescos, e essa impressão Paulo Rocha consegue transmitir ao espectador com uma elegância que lembra, sem ser imitativo, os filmes da nouvelle vague francesa. Apenas o final melodramático destoa um pouco, mas podemos creditar sua fraqueza mais à censura salazarista do que propriamente ao filme.

Em 1966, o tom muda consideravelmente. "Mudar de Vida" parece receber a influência do cinema novo brasileiro. Aliás, traz o ator brasileiro Geraldo Del Rey como Adelino, que volta de Angola (engajado, claro) para sua aldeia de pescadores. Ali reencontra Albertina, seu velho amor, que nesse intervalo casou com o irmão de Adelino.

Embora o tema do amor e suas desventuras esteja presente, como em boa parte da obra do diretor português, é a vida dos pescadores da vila que dá o tom ao filme.

Bem mais tarde, em 1998, "O Rio do Ouro" retoma o tema dos amores, seus momentos felizes e outros tantos trágicos. Desta vez Rocha chama outro brasileiro, Lima Duarte, para contracenar com Isabel Ruth, que já foi chamada de atriz-fetiche de Rocha, em cujos filmes é presença constante desde "Verdes Anos".

Nos anos 1980, já com um novo Portugal, nada salazarista, instalado, Rocha parece se aproximar de uma nova geração e avançar para o experimentalismo em filmes como "A Ilha de Moraes", de 1984, ou "A Ilha dos Amores", de 1982, em que a poesia medieval lusitana e a teatralidade dão o tom. "Máscara de Aço Contra Abismo Azul", de 1989, parece uma bem-sucedida experiência na mistura de cores, onde a delicadeza volta a dar o tom.

À primeira vista, essa delicadeza, a sutileza do toque, a maestria dos enquadramentos são os pontos decididamente fortes de um cineasta que, sem a grandeza de um Manoel de Oliveira ou de um João César Monteiro, é um valor seguro do cinema em língua portuguesa e, além de um hábil driblador da limitação de recursos que se experimenta com frequência no cinema lusitano.

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