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Oficina reabre com Beckett, 'Paranoia' e o ator Reynaldo Gianecchini nu com Zé Celso

Teatro volta a receber público com peça de Marcelo Drummond, e seu fundador estrela os filmes 'Esperando Godot' e 'Fédro'

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Marcelo Drummond e Sonia Ushiyama durante ensaio da peça 'Paranoia', no Teatro Oficina, em São Paulo Karime Xavier/Folhapress

São Paulo

O Teatro Oficina reabre nesta quinta-feira, dia em que celebra o aniversário de 63 anos da companhia, depois de um ano e nove meses fechado pela pandemia. Além da peça "Paranoia", estreia em seguida "Esperando Godot", filmado no próprio teatro, em junho passado, para veiculação no streaming. E, depois, em dezembro, "Fédro", com Zé Celso como ator e filmado antes da pandemia, chega à plataforma Star+.

"Está tudo voltando, eu saquei isso agora e fiquei nervoso, excitado", diz Zé, de 84 anos. "O teatro já lotou, todos os dias. Fico assustado como as pessoas compraram ingressos. Eu ainda estou pulsando em outro ritmo. Tenho que me conter, se não o coração explode."

"Paranoia", monólogo com Marcelo Drummond, faria cinco e agora fará nove apresentações, num "teste sanitário", segundo o ator.

"As pessoas estão doidas para sair de casa", diz ele. "E quem conhece o Oficina sabe que é mais seguro, porque abre janelas, aquela porta de vidro imensa, o teto." As apresentações vão oferecer a ventilação e exigir cartão de vacinação e uso de máscaras.

A peça foi encenada por Drummond do livro de mesmo nome, de Roberto Piva, que morreu em 2010, pouco antes de ela estrear. O poeta paulistano foi amigo de Zé desde a pré-adolescência, quando passava férias e Carnaval em Araquarara, no interior paulista, e também de sua irmã Lala.

"Nos conhecemos na piscina, garotos", lembra Zé. "E voltamos a ser amigos em São Paulo. Ele me ligava, me dava aulas pelo telefone, tinha uma cultura enorme. Era um excelente professor, mas andou cantando os alunos e foi expulso."

Zé dedicou a Piva a primeira montagem de "Mistérios Gozosos" e acrescentou versos dele ao espetáculo "Ela", que protagonizou. "Eu sou uma metralhadora em estado de graça/ Eu sou a pomba-gira do Absoluto", dizia, no trecho também acrescentado a "Paranoia".

O monólogo, resume Drummond, "é um poeta em São Paulo, uma São Paulo que crescia loucamente, movimentada", quando Piva escreveu, no início dos anos 1960.

Ensaiado a partir de janeiro deste ano, "Godot" era para ter sido filmado em fevereiro, depois abril, mas foi sendo adiado pela diretora Monique Gardenberg diante da persistência da Covid. Zé dirigiu Drummond, Guilherme Calzavara, Pascoal da Conceição, Danilo Grangheia e Raphael Moreira via Zoom, no computador que foi sua ligação com o mundo desde março do ano passado.

"Eu trabalhei muito, mas no Macintosh", conta. Iniciou um livro, "A Origem da Tragikomediorgya", e uma adaptação para teatro de "Heliogábalo", que acabou adiando para se dedicar a "lives" que ajudaram a pagar as contas.

Os poucos ensaios de "Godot" no teatro e a filmagem tomaram algumas semanas, em pleno inverno e com portas e janelas escancaradas. "Um frio", diz Zé. "Eu preparei a encenação, fui lá e montei rapidamente. Com máscara, super agasalhado. Foi muito difícil. Depois eu trabalhei com a Monique na casa dela."

Ele já havia dirigido a peça de Samuel Beckett em 2001 no Rio de Janeiro, convidado por Gardenberg. Mas agora a encenação está diferente, "porque a situação é outra". "A primeira fez sucesso, virou uma comédia, que é o que eu queria mesmo. Agora é cômica, mas nem tanto, porque a gente ensaiou muito e entendeu melhor a peça. Fomos descobrindo outras coisas."

Mas ele se recusa a revelar o quê. "É um spoiler que eu não posso dar, estraga o filme", diz. "'Godot' é uma peça messiânica, porque eles vivem esperando Godot, que nunca vem e eles continuam esperando. Eu 'desmessianizei' a peça. Não sei se vão admitir."

Depois do teste com "Paranoia", é o espetáculo que Zé quer pôr em cartaz no Oficina, quando o filme já tiver sido exibido o bastante via streaming. "Nós vamos fazer", diz, "mas a encenação vai mudar, porque ficou muito mais bonito no lugar que tem agora lá, que é onde estão as portas de vidro, um portal para o terreno" ao lado, de Silvio Santos.

"Fédro" é o que deixa Zé mais inseguro. Diz que ainda não assistiu ao filme inteiro. "Eu tinha visto logo, muita coisa, e tive um choque", conta. "Detestei, porque me achei muito velho. Aí vi de novo e vi que estava bom. E começou a vir muito elogio, da [atriz] Maria Padilha, agora a [cantora Maria] Bethânia. Comecei a ter outra visão de mim mesmo."

No filme, ele é Sócrates e Reynaldo Gianecchini é Fédro, pelo menos era essa a ideia. "Se passa com os dois indo para o campo, onde se deitam debaixo de uma árvore, conversam sobre o amor, nasce o amor", diz.

"Mas o Gianecchini ficou muito esquisito. Teve um momento em que a gente devia deitar na cama, os dois nus. Nossa, demorou muito para ele tirar a roupa. Afinal ele tirou, mas eu não encostei nele."

Gianecchini estreou profissionalmente no Oficina, em 1998, em "Cacilda", e no ano seguinte atuou em "Boca de Ouro". O reencontro com o diretor acabou mudando o filme de Marcelo Sebá, codirigido por Camila Mota.

"Eu fui improvisando", diz Zé. "Não se falou em sexo, mas em exposição. Eu caí de pau, mas de uma maneira elegante, me veio uma lucidez. O filme parece que está bom."

Tanto quanto livros, peças e filmes, o que preocupa o diretor neste momento é uma cirurgia da próstata, que ainda não tem data marcada, mas ocupou suas últimas semanas, entre consultas e exames.

"Estou na fase pré-cirurgia", diz. "E é demorado, fiz um exame no Fleury, mais milhares no Prevent Senior. Agora acabei, fiz o último."

Zé acredita que tanta coisa indica que "começou uma nova era". Que "o que fizeram com o equipamento cultural foi um terror", mas não sufocou a cultura. "Eu acho que ela está viva. Eu sinto em mim."

Paranoia

  • Quando Estreia nesta quinta (28). Sessões em 30/10, 5/11, 7/11 e 9/11, às 20h
  • Onde Teatro Oficina, r. Jaceguai, 520
  • Preço De R$ 25 (meia) a R$ 100. Entrada mediante comprovação de vacinação
  • Autor Roberto Piva
  • Link: https://bileto.sympla.com.br/event/69500/d/112485/s/658781
  • Direção e interpretação Marcelo Drummond

Esperando Godot

  • Quando 5/11 a 31/12
  • Onde Sympla Play
  • Preço R$ 19,99 (pré-venda)
  • Elenco Marcelo Drummond, Guilherme Calzavara, Pascoal da Conceição, Danilo Grangheia e Raphael Moreira
  • Direção Zé Celso e Monique Gardenberg
  • Link: https://www.sympla.com.br/esperando-godot__1386067

Fédro

  • Quando Estreia em 15/12
  • Onde Star+
  • Elenco José Celso Martinez Corrêa e Reynaldo Gianecchini
  • Direção Marcelo Sebá
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