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César Vallejo, maior poeta peruano, é redescoberto no Brasil com obra póstuma

Edição bilíngue de 'Poemas Humanos' é lançada pela editora 34 com tradução de Fabrício Corsaletti e Gustavo Pacheco

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Buenos Aires

Principal nome das letras peruanas, um dos mais importantes escritores latino-americanos e com fãs e tradutores ilustres no Brasil, como Haroldo de Campos, Ferreira Gullar e Thiago de Mello, é praticamente impossível encontrar seus livros nas estantes das livrarias brasileiras. As traduções que existem de sua obra estão fora de catálogo.

Falamos de César Vallejo, autor morto em 1938, cuja obra póstuma e inacabada "Poemas Humanos" é lançada agora no Brasil em edição bilíngue pela 34. A tradução é de Fabrício Corsaletti e de Gustavo Pacheco.

"Mais que um poeta, Vallejo era um intelectual que, às vezes, ficava tão transtornado, indignado com o que ocorria, que tinha momentos longos de prostração, que eram alternados com episódios de intensa produtividade. Creio que de fato tinha uma depressão não diagnosticada", conta o jornalista peruano Daniel Titinger, autor de "El Hombre Más Triste - Retrato del Poeta César Vallejo", lançamento da editora Diego Portales e só disponível por importação no Brasil.

homem branco de terno sentado com uma das mãos no queixo e a outra apoiada de bengala
O poeta peruano César Vallejo nos jardins de Versailles, na França, em 1929 - Wikimedia Commons/Divulgação

Vallejo nasceu num pequeno povoado, Santiago de Chuco, no norte da cordilheira dos Andes, de ascendência espanhola e indígena. Tentou estudar letras na Universidade de Trujillo, depois medicina na de San Marcos, mas teve de abandonar ambas porque precisava trabalhar.

A exploração dos mineiros nos Andes foi um de seus primeiros contatos com a dura realidade dos trabalhadores peruanos e foram fortalecendo seu vínculo com o comunismo. Mais tarde, na Europa, se envolveria em diversas causas e se transformaria num militante, visitando a então União Soviética algumas vezes.

Os conflitos políticos causaram problemas a ele desde cedo, e, em 20 de julho de 1920, ao se meter num embate que terminou com o incêndio de uma uma loja e a morte de três pessoas, terminou indiciado e, com isso, teve de passar meses foragido. O episódio continuou sendo obstáculo para sua vida no Peru até que se decidiu a mudar para a França, onde passaria o resto de sua vida.

"Na Europa, ele teve uma vida precária, de imigrante, com trabalhos temporários, todas suas cartas mencionam falta de dinheiro, pedidos de empréstimo, problemas recorrentes de saúde. Mas em nenhum momento deixou de escrever e de buscar andar com a intelectualidade parisiense daquela época", conta Titinger. Para ganhar a vida, Vallejo escrevia artigos e crônicas para publicações peruanas.

Entre seus livros mais importantes estão "Trilce", de 1922, considerado o mais vanguardista, e "Los Heraldos Negros", de 1919, em que se nota a influência do nicaraguense Ruben Darío e do uruguaio Julio Herrera y Reissig, expoentes do modernismo latino-americano de então. Ao longo da obra, porém, outras referências vão surgindo, como a importância do coloquialismo e o resultado da leitura dos autores do chamado século de ouro espanhol.

'"Vallejo é uma exceção em sua geração. Como ele, havia muitos escritores marxistas, vanguardistas, existencialistas e latino-americanos. Cabe um monte de gente nessa classificação, ainda mais nesses anos, na Europa. Mas há uma estranheza, uma particularidade própria dele. Creio que quando Vallejo escrevia, criava uma deformação que me faz pensar em Van Gogh. Você consegue ver o que está sendo deformado, transformado, mas se trata de algo que você nunca viu antes. Isso só há no Vallejo", diz o poeta e tradutor Fabricio Corsaletti.

"No fundo, ele realiza o sonho de todo poeta, que é inventar uma língua própria que as outras pessoas entendem."

Pacheco conta que, por se tratar de um livro inacabado, que o autor não reviu e não deu a ele uma unidade, os tradutores preferiram não ajeitar "estranhezas ortográficas", que para alguns editores espanhóis pareceu necessário. "Preferimos confiar no Vallejo e deixar a ortografia e a pontuação do modo como ele deixou", afirma Pacheco.

Há muito mistério em torno da vida cotidiana de Vallejo, mas se sabe que era marcada pela boêmia e pela falta de método. "Seus momentos de escrever eram quando era tomado por algo, por uma inspiração que tinha grande força sobre ele. No mais, seus hábitos eram desregrados, com muitos altos e baixos de humor", conta Titinger.

Entre seus últimos trabalhos, que estão em "Poemas Humanos", estão alguns em que se nota uma enorme frustração política. "Estava doendo muito para Vallejo ver que a guerra civil espanhola estava no caminho de ser vencida por Franco. Ele escreveu em seus últimos meses com raiva, com fúria", afirma Titinger.

Deste furor, surgiram, entre outros, os 15 poemas sobre a guerra civil espanhola depois editados no livro "España, Aparta de Mí este Cáliz".

A causa de sua morte não é consenso entre os que estudaram sua biografia, mas se menciona sífilis, malária e febre tifoide. Tinha 46 anos.

Poemas Humanos

  • Preço R$ 72 (328 págs.)
  • Autoria César Vallejo
  • Editora Editora 34 (coleção Fábula)
  • Tradução Fabricio Corsaletti e Gustavo Pacheco
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