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Globo de Ouro 2022 foi deprimente e não criou polêmica com premiados

Edição boicotada por famosos se preocupou em reabilitar a própria imagem e celebrou diversidade com troféus

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É estranho dizer que a edição do Globo de Ouro deste domingo foi memorável –afinal, nem acesso à cerimônia-conferência o público e a imprensa tiveram. Os vencedores foram anunciados nas redes sociais, ao longo de uma hora e meia, em publicações breves que em nada lembraram o brilho do que sempre foi umas das principais noites de gala de Hollywood.

Mas é justamente por esse formato deprimente que o 79º Globo de Ouro entrará para a história, como a edição mais problemática e, por que não, a mais patética dessas oito décadas de premiação.

Estátua que imita o troféu do Globo de Ouro durante conferência de anúncio dos indicados ao prêmio, em dezembro de 2021
Estátua que imita o troféu do Globo de Ouro durante conferência de anúncio dos indicados ao prêmio, em dezembro de 2021 - Robyn Beck/AFP

O constrangimento começou antes mesmo do anúncio dos vitoriosos, com fotos de membros da Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood, a HFPA, que entrega o troféu, chegando ao local da conferência sigilosa, e com trechos de discursos de celebridades que venceram no passado sendo publicados na internet, como que para suprir a ausência de famosos –que se recusaram a participar– neste ano.

"Nós vemos, ouvimos e vamos contar as histórias de vocês", dizia uma das publicações, citando um trecho do discurso de Oprah Winfrey ao receber um prêmio honorário há dois anos. A frase não foi escolhida à toa, certamente, já que uma das acusações que rondam o Globo de Ouro é a de racismo e falta de representatividade.

Quando a não cerimônia começou, a mensagem que a inaugurou foi uma outra tentativa desesperada de mostrar a relevância e o bom-mocismo da Associação de Imprensa Estrangeira. "A HFPA doou US$ 50 milhões para instituições de caridade nos últimos 25 anos", dizia o post, numa edição que foi vendida como uma oportunidade para celebrar o trabalho filantrópico por trás do Globo de Ouro.

Talvez já como reação às históricas indicações e vitórias duvidosas de Globos de Ouro do passado, esta edição teve uma lista de premiados bastante coesa e pouco surpreendente. Ganhou troféu quem realmente era tido como favorito na temporada de prêmios.

A parte televisiva, por exemplo, se concentrou na comédia "Hacks" –melhor série e melhor atriz no gênero– e no drama "Succession" –série dramática, ator e atriz coadjuvante–, apostas seguras para a noite.

Já entre as minisséries e filmes feitos para a TV, quem levou foi "The Underground Railroad", produção elogiada, mas que parecia ter pouca força diante de "Mare of Easttown" ou da nova sensação "Maid". Pegou bem, no atual cenário, premiar uma trama sobre a escravidão –não tirando os méritos da minissérie, mas vale destacar que ela não levou nada no último Emmy e, mesmo no Globo, só estava indicada em uma categoria.

Também foi com certa surpresa que Michaela Jaé Rodriguez venceu como melhor atriz de série dramática, por "Pose". Ela se tornou a primeira atriz trans a sair vitoriosa do Globo de Ouro, numa marca histórica pró-diversidade que também insinua que o prêmio está pronto para mudanças. Já Oh Young-soo, de "Round 6", se tornou o primeiro ator sul-coreano premiado após triunfar na categoria de melhor ator coadjuvante.

Da mesma forma, em cinema, Jane Campion rompeu barreiras ao se tornar a terceira mulher a vencer o Globo de melhor direção, por "Ataque dos Cães" –também escolhido como melhor filme de drama. Também tivemos duas latinas vencendo os prêmios de melhor atriz em comédia ou musical e melhor atriz coadjuvante –Rachel Zegler e Ariana DeBose, ambas por "Amor, Sublime Amor", que ganhou como melhor filme do gênero.

Quando os anúncios terminaram, a sensação que ficou foi a de que o Globo de Ouro nem aconteceu. Sem o glamour da festa ou ao menos uma transmissão televisiva, sua relevância foi mínima, o que é potencializado num ano em que as apostas para o Oscar já parecem estar bem definidas e pouco divididas.

Também não houve grande comoção ou protestos nas redes sociais durante a noite. No Twitter, onde os vencedores eram anunciados, os comentários de internautas se limitavam à torcida para um ou outro filme ou série, e poucos lembravam as polêmicas que ameaçam "cancelar" o Globo de Ouro.

Sinal de que, como já se espera nos bastidores de Hollywood, mais alguns meses de geladeira podem ajudar a premiação a reabilitar sua imagem e reconquistar a confiança da indústria e do público.

Sempre tão engajadas, as celebridades hollywoodianas simplesmente ignoraram o prêmio, o que manda uma mensagem clara de que não querem se envolver com ele no momento atual, mas que também não querem cortar laços de forma permanente.

Jamie Lee Curtis foi uma das poucas vozes a mostrar apoio público nesta noite, dizendo ter "orgulho de estar associada à HFPA", que faz "um trabalho filantrópico de forma muito discreta e sutil". No geral, no entanto, até estúdios falaram pouco do prêmio na internet –incluindo os que receberam troféus.

Dado o contexto, é melhor ser ignorado do que criticado. Com isso, parece que o Globo de Ouro sobrevive, afinal. Mas ninguém deve esquecer tão cedo que em 2022 ele foi uma piada.

Confira a lista completa de indicados e vencedores aqui.

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