Morreu a cantora Betty Davis, considerada uma das rainhas do funk, do soul e de R&B, nesta quarta-feira, aos 76 anos. A morte da artista foi confirmada por uma amiga, a cantora Danielle Maggio, à revista americana Rolling Stone. Segundo Amie Downs, diretora de comunicação do condado de Allegheny, no estado americano da Pensilvânia, onde Davis morava, ela morreu de causas naturais.
A maior parte de sua obra foi gravada entre 1964 e 1975, mas seu impacto foi sentido nas décadas seguintes. A artista foi casada com o trompetista Miles Davis e foi amiga próxima de Jimi Hendrix.
Nascida em 1945 e criada numa fazenda no estado americano da Carolina do Norte, Betty assinava o sobrenome Mabry e, no final dos anos 1960, morou em Nova York após se sentir atraída por um curso de moda. Trabalhou como modelo e frequentava o Greenwich Village, o bairro boêmio da época.
Foi ainda como Betty Mabry que ela lançou o single "Get Ready for Betty", ainda em 1964. Ela se casaria com Miles Davis em 1968 e, apesar de a união ter durado só um ano, ela é reconhecida por introduzir o trompetista à sua fase no jazz fusion, apresentando o marido a Hendrix —o que rendeu discos como "In a Silent Way" e "Bitches Brew", de 1969 e 1970, nesta ordem. Também foi o retrato na capa do álbum "Filles de Kilimanjaro", de 1969.
Quando ainda estava com o trompetista —que a agredia—, gravou canções sob sua produção e com músicos dele e de Hendrix, como o pianista Herbie Hancock e o baixista Billy Cox. Esse material só seria lançado em 2016, no álbum "The Columbia Years".
O álbum de estreia de Betty Davis só sairia em 1973, feito para a Just Sunshine Records, de um dos organizadores de Woodstock, Michael Lang, morto recentemente. Nos dois anos seguintes, lançaria ainda "They Say I'm Different" e "Nasty Gal" —boicotados pelas rádios, nenhum foi um sucesso comercial.
Em compensação, a ousadia de suas letras e a energia da sua música conquistou fãs e ficou marcada por seu viés libertador que, no futuro, seriam a base para trabalhos de artistas como Prince e Madonna.
Betty Davis foi autora de letras de perspectiva feminista, abordando sexo e prazer sob uma ótica até então restrita a artistas homens. São exemplos os versos de "Shoo-B-Doop and Cop Him" –"manas, não consigo evitar/ vou degustar até o sol nascer/ e quando minhas pernas ficarem bambas/ elas vão saber, e nós ainda estaremos mandando ver".
Seu último álbum, "Is It Love or Desire", de 1976, foi engavetado pela gravadora e lançado só em 2009.
Em entrevista a Phil Cox no documentário "Betty – They Say I'm Different", de 2017, Davis parece não se arrepender. "Eu destruí minha carreira porque me recusei a me comprometer." Depois, a crítica a veria como uma precursora do protopunk de Iggy Pop.
Ainda nos anos 1970, ela enfrentou problemas como Miles Davis, que a acusou de adultério na Justiça, a morte de seu pai e sintomas de uma provável esquizofrenia. Resolveu largar a carreira musical e até passou 30 anos sem nem sequer ouvir rádio.
Sua última música lançada foi "A Little Bit Hot Tonight", de 2019, mas que acabou interpretada só pela cantora Danielle Maggio.
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