Falar de cultura pop na internet não é nenhuma novidade, já que a todo momento surgem canais sobre o assunto. Mas a verdade é que, mesmo num cenário saturado, há quem consiga fugir da mesmice –caso do podcast "Falando de Nada", que debate cinema, TV e streaming em discussões que vão a fundo.
Lançado semanalmente, o podcast informa o que há de novo no mundo do entretenimento, discute os movimentos das empresas da área e conversa sobre as mudanças que vêm ocorrendo nessa seara. O papo-cabeça, que de difícil não tem nada, vai acompanhado de várias dicas de filmes e séries que podem ter fugido do radar.
Com apresentação de Aline Diniz e Michel Arouca, os episódios são agradáveis justamente por usarem cerca de uma hora para aprofundar conversas que costumam ser rasas em outros espaços. Numa época em que bem-sucedido é quem faz caras e bocas enquanto assiste a trailers de filmes e séries, o "Falando de Nada" surge como um respiro.
Prova da originalidade das pautas é que os dois episódios mais vistos do programa no YouTube são os que mergulham na história do polêmico fim da Loading, canal que levou programas sobre cultura pop à TV aberta no ano passado por menos de seis meses.
Rodeado de mistérios, foi no "Falando de Nada" que a história ganhou clareza –Fernanda Pineda, jornalista e ex-funcionária da Loading, foi ao programa contar detalhadamente sobre sua demissão inesperada.
E os apresentadores conseguem falar de cultura pop com certa propriedade. É que Diniz era uma das preferidas do público no Omelete, site brasileiro dedicado à cobertura de entretenimento. Depois de sair de lá, em 2020, a jornalista foi uma das comentaristas da última edição do Emmy, no canal TNT, ao lado de Arouca. Agora ela fala de filmes e séries no Entre Migas, um canal que divide com colegas e ex-funcionários do Omelete.
Arouca, por sua vez, é dono do canal Série Maníacos, que acumula quase 250 mil inscritos no YouTube, e apresentou recentemente um podcast oficial sobre "Succession", seriado da HBO.
A dupla tem química e não deixa que a conversa soe simplista ou cabeçuda demais para quem está ouvindo. Há até um momento para responder dúvidas do público, feito no final de cada episódio, que poderia ser entediante, mas é um pedaço divertido com boas dicas de filmes e séries.
Se há um momento de interação que pode incomodar é o quadro "Que Funko é Esse?", em que o debate é interrompido para que a audiência tente adivinhar um boneco. O momento até funciona para quem está assistindo à filmagem do episódio no YouTube, mas é difícil entrar na brincadeira sem os recursos visuais —quem consome o programa nas plataformas de áudio pode sentir que é uma quebra desnecessária.
O podcast ganha força mesmo quando a dupla destrincha assuntos complexos e polêmicos, como o suposto prejuízo milionário que a HBO teria tido ao descartar o piloto de um spin-off de "Game of Thrones", a briga entre Scarlett Johansson e a Disney ou a batalha que a empresa do Mickey teve de travar no Brasil para usar o nome Star+ no seu streaming para adultos.
Há até um senso de narrativa na condução do programa, dado que os apresentadores costumam retomar assuntos de episódios passados. É o caso do recente acidente com o ator Alec Baldwin, que acertou um tiro fatal numa diretora de fotografia —o podcast debate o assunto sempre que há atualizações no caso.
Simples e despretensioso, este é um podcast que informa e debate sem soar genérico. Não é revolucionário, mas não há nada mais satisfatório do que terminar um episódio e perceber como as melhores conversas surgem quando se está "falando de nada".
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