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'Uncharted' mostra o corpo de Tom Holland em toda a sua agilidade

Adaptação de série de jogos visita 'Indiana Jones' com o novo Homem-Aranha, chega a divertir e deve agradar a produtores

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João Montanaro

Uncharted: Fora do Mapa

  • Onde Nos cinemas
  • Classificação 12 anos
  • Elenco Mark Wahlberg, Tom Holland e Sophia Taylor
  • Direção Ruben Fleischer

Um espectro ronda Hollywood há algumas décadas. Ele se manifesta na inabilidade da indústria em conseguir fazer franquias a partir de adaptações de jogos eletrônicos. De todas as adaptações lançadas nos últimos dez anos, só "Sonic" e "Resident Evil", que iniciou sua franquia há 20 anos, tiveram continuações.

"Como um mercado que produz globalmente US$ 218,8 bilhões por ano; rico em propriedades intelectuais, com uma sólida base de fãs espalhados pelo globo, e que ao longo dos anos tomou emprestado boa parte da nossa sintaxe visual, não consegue servir de matéria-prima para algumas franquias que lucrem alguns míseros bilhões?", devem perguntar os produtores executivos, enquanto pressionam as têmporas.

Há diversas possíveis respostas para essa angústia. Há quem diga que a natureza discrepante entre os meios —cinema como uma experiência narrativa passiva e o videogame como uma experiência interativa— dificulta adaptações, já que boa parte do que faz um jogo não está necessariamente ligada à história, drama ou personagens que apresenta.

Jogos continuam sendo jogos, com regras, objetivos e agência do jogador sobre os caminhos que a narrativa e seu protagonista vão tomar. Realizadores teriam muito pouco material para desenvolver um filme, por mais que cada vez mais games pareçam filmes impossíveis de serem realizados devido ao escopo que acabam tomando.

"Uncharted: Fora do Mapa" é a aposta da Sony —responsável pelo console PlayStation— para quebrar o mau agouro que impera sobre essas adaptações. Baseado num jogo tido como cinematográfico e que tem como maior influência a franquia de filmes "Indiana Jones", o longa é dirigido por Ruben Fleischer
e tem Tom Holland estrelando como Nathan Drake, um garoto órfão que ganha a vida em Nova York como bartender e praticando pequenos furtos.

Ele é procurado pelo ladrão e caçador de tesouros Victor Sullivan, papel de Mark Wahlberg, para que juntos tentem localizar o ouro perdido de Fernão de Magalhães através de pistas que o irmão mais velho de Nathan pode ou não ter compartilhado com ele antes de desaparecer do mapa.

Nathan escolhe entrar na aventura na esperança de finalmente reencontrar seu irmão sumido, mas logo
se vê imerso em conspirações, traições e perseguições, uma vez que o herdeiro da poderosa família Moncada, papel de Antonio Banderas, também está atrás do ouro.

O filme, então, segue a estrutura clássica de uma caça ao tesouro pelo mundo. Os protagonistas são perseguidos por capangas do vilão, traídos por personagens um passo à frente deles e resolvem quebra-cabeças usando livre interpretação da história e artefatos antigos.

Tudo isso se movimentando em ritmo frenético entre "set pieces" tão absurdas quanto divertidas, o que remete ao material original que serviu de base para o jogo.

Sob a sombra das aventuras consagradas por Steven Spielberg, não há nada para ser visto de novo ou melhor que a influência da influência. Fleischer decupa a ação com tanta falta de esmero, interessado só em mostrar a proficiência da sua equipe de computação gráfica, que pensar em comparar o que ele apresenta com a perseguição de tanques de guerra em "Indiana Jones e a Última Cruzada" soa covarde.

O filme acaba encontrando sua redenção na relação entre a dupla de protagonistas, que no início é vacilante, mas logo engata em uma bem humorada dinâmica de mestre e aprendiz, e no seu ritmo
afobado que põe os protagonistas em situações exponencialmente absurdas.

Tendo formação como dançarino e acrobata, Tom Holland tem uma performance que exalta seu físico. Seu controle na hora de executar movimentos difíceis em sincronia com outros atores enquanto corre e pula pelo set impressiona quando a decupagem mantém esse percurso.

Não é coincidência que o filme preste homenagem a "Police Story: A Guerra das Drogas", de Jackie Chan. Infelizmente, Tom Holland ainda é o maior jovem astro em ascensão em Hollywood, e ele, provavelmente, não tem a mesma liberdade de arriscar suas articulações como Chan tinha —mesmo sendo esse também o maior astro do cinema de Hong Kong na época.

Para você ver a diferença entre indústrias —e suas peripécias sem auxílio de computação gráfica, por melhores que sejam, acabam sendo apenas pontuais. Vale imaginar o potencial como um intérprete que tem como grande trunfo a forma como se movimenta em frente à câmera.

"Uncharted: Fora do Mapa" acaba sendo um trabalho baseado num jogo —por sua vez, baseado em filmes— e tem dificuldade de pensar fora dessa retroalimentação de influências. Nenhuma armadilha é nova, nenhuma traição é inusitada, mas em nenhum momento o espectador deseja ter um controle em mãos para pular direto para a ação divertida. Melhor, talvez você saia do cinema querendo jogar "Uncharted".

O mercado finalmente terá uma nova bem-sucedida franquia baseada num jogo? O final dá a entender que essa é a intenção. Se conseguir se distanciar das influências mais óbvias e enfocar a relação entre os dois protagonistas, pode ser o início de uma franquia sem compromissos e bem divertida.

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