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Saída de Jade do BBB 22 mostra que redes sociais arruinaram o programa

Fãs eliminam os melhores personagens enquanto participantes só se preocupam com número de seguidores

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São Paulo

Eliminar Jade Picon do BBB 22 era o que faltava para cravar esta edição como uma das mais chatas do reality show. Pobre de cenas memoráveis e com um elenco sem carisma, o programa só empolgava quando falava da briga entre Jade e Arthur Aguiar, o ator famoso por trair sua mulher inúmeras vezes e agora queridinho das redes sociais.

Prova disso é que nem o próprio elenco acreditou na saída dela nesta semana, no segundo maior paredão da história do BBB —muitos dos participantes estavam convencidos de que tudo não passou de uma encenação. "Você não teria coragem de me colocar no paredão. Já que está perto da porta, pode sair", disse a influenciadora digital numa briga contra Arthur no início da semana. "Não, as damas primeiro", ele respondeu.

A briga, aliás, era quase um repeteco da que foi criada entre Manu Gavassi e Felipe Prior, que protagonizaram a votação recordista do programa no BBB 20. A diferença é que, ao contrário daquela edição, não restou nada de empolgante para ser exibido no BBB 22.

Jade Picon, recém-eliminada do Big Brother Brasil deste ano - Instagram/jadepicon

Parte do motivo para o reality estar chato desse jeito é a ira canceladora das redes sociais. Basta uma birra qualquer com um participante para o público eliminar o jogador, independente do quão interessante era a dinâmica que acrescentava ao jogo.

Foi o caso de Jade. Se antes ela era a menina rica que divertia ao mostrar que não sabia nem lavar roupa, nos últimos dias sua personalidade tinha deixado de soar engraçada e passado a despertar a ira dos politicamente corretos do Twitter e do Instagram.

Basta uma busca rápida para ver que esse ranço nas redes diante das atitudes arrogantes de Jade é muito maior que o desgosto pelo antijogo de Jessilane Alves, que participava deste paredão e infelizmente ganhou mais uma chance do público.

O problema é que essa interferência das redes tem feito o programa perder seus melhores participantes e ir de mal a pior —e a saída de Jade é só um dos indícios disso.

Exemplos são alguns posts recentes no Twitter, em que tudo é levado a sério demais. Um deles compara os discursos de Jade às falas recentes ao deputado Arthur do Val, o Mamãe Falei. "Prepotente, arrogante, a cara dos ricos que desprezam o pobre brasileiro", diz um usuário, possivelmente irritado porque a influenciadora afirmou que doaria o valor do prêmio para cinco instituições de caridade brasileiras.

Mas é exatamente de personagens equivocados e com falas absurdas como essa que o BBB precisa. Com a possibilidade de ver famosos milionários jogando e queimando seu filme, por que não se divertir com seus delírios?

Não é de hoje que as redes sociais vêm estragando o BBB. Até Gil do Vigor, o protagonista da edição passada, foi eliminado a poucos dias da final depois de irritar a legião de fãs de Juliette, queridinha na época. Mesmo que os desentendimentos entre eles já estivessem resolvidos, os fãs da paraibana não o perdoaram e criaram mutirões de votos para tirar o jogador e deixar lá Camilla de Lucas, uma das participantes mais sem graça daquela edição.

Os nervos estavam mesmo à flor da pele na época. Karol Conká, eliminada com recorde de rejeição, foi tão odiada na internet que virou até propaganda de posts de restaurantes e bares, que ofereciam brindes e descontos para quem acertasse o percentual de sua eliminação.

Hoje, é fácil encontrar quem diga que sente falta dos momentos memoráveis de Karol Conká. Mas como eles vão voltar a ocorrer, se os ditos vilões continuam sendo massacrados?

O BBB do ano passado também fez anônimos ganharam milhões de seguidores e até fã-clubes nas redes sociais. Juliette, o fenômeno da edição, migrou de poucos milhares de seguidores para mais de 24 milhões no dia de sua vitória, o que parece ter virado o sonho de consumo dos novos participantes.

Como resultado disso, o elenco do BBB 22 parece estar mais preocupado em ganhar alguns milhões de seguidores no Instagram do que em chegar à final do jogo. Isso sem falar que todos têm medo de causar discórdia, desagradar ao público e ser cancelado pela internet, o que torna o jogo ainda mais entediante.

Jade não é o primeiro participante a ser eliminado cedo demais da edição. Rodrigo Mussi, "brother" que queria falar de jogo enquanto seus colegas só queriam saber de paz e amor, foi eliminado depois de soltar um termo considerado transfóbico. A repressão, que começou nas redes sociais, foi legítima, mas fato é que, naquele paredão, o público eliminou um personagem promissor.

Caso semelhante é o de Gustavo Marsengo, que entrou no BBB 22 com algumas semanas de atraso e que tentou empolgar o público a se dispor a abraçar o papel de vilão. Não deu certo. Bastou ele dizer que era hétero e se considerava top no comercial de apresentação para organizarem uma torcida contra.

Mesmo assim, é inegável que, desde que entrou, Gustavo é um dos únicos que tem feito o jogo se movimentar. Tomara que, pelo bem do reality, os censores tenham paciência.

É claro que a saída de Jade agora não foi motivada só pelos fãs de BBB na internet, já que mesmo os que só acompanham o programa pela televisão não a viam com bons olhos. Sua alta rejeição, no entanto, com 84,93% dos votos, foi sim alavancada pela torcida organizada das redes sociais, agora decisivas para o programa.

O reality da Globo virou uma ditadura virtual, e Arthur, com seu exército de defensores, deve levar o prêmio sem grandes dificuldades. Mesmo que haja quem considere injusto que ele vença o programa depois de ter traído a mulher tantas vezes.

De todo modo, o vencedor agora pouco importa. Não parece haver jeito de salvar o naufrágio que é o BBB 22 do marasmo. Resta saber se vai chegar o momento em que os brasileiros vão finalmente aprender a votar.

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