Qualquer estagiário de TV sabe disso: o que determina o sucesso de um reality show é a escolha do elenco. As regras podem ser absurdas, o prêmio pode ser irrisório, mas o que faz com que um reality atraia público são as pessoas que participam dele.
E nenhum outro formato depende tanto do elenco quanto o Big Brother Brasil. Porque, enquanto numa competição culinária como o MasterChef, os candidatos devem cozinhar bem, ou, num concurso de calouros como The Voice Brasil, eles têm que ser bons cantores, no BBB o jogador só precisa ser ele mesmo. O vencedor será aquele que angariar a maior simpatia da audiência.
Por isso mesmo, é surpreendente que o BBB 22, nada menos do que a 22ª temporada do programa, tenha escalado um elenco tão fraco. A esta altura, os profissionais de casting já deveriam sentir de longe o cheiro de quem rende em frente às câmeras, mas acabaram errando feio na seleção dos participantes.
Esta é a terceira vez em que os jogadores chegam divididos em dois grupos, Pipoca e Camarote. O primeiro reúne anônimos que se inscrevem e passam por inúmeras provas e peneiras, até serem definitivamente aprovados. O segundo é formado por convidados: artistas, esportistas, influenciadores e celebridades em geral.
Em 2020, a novidade funcionou bem demais, porque o Camarote contava com nomes como a cantora Manu Gavassi e o ator Babu Santana. Relativamente conhecidos, eles se agarraram à chance de dar um salto nas carreiras, e saíram do BBB muito mais populares do que entraram.
Este sucesso atraiu famosos de maior quilate. Mas, já no ano passado, os rappers Karol Conká e Projota conseguiram arranhar suas reputações, ao tratar seus concorrentes com arrogância e até crueldade. Por um lado, foi bom: aquela temporada gerou muito engajamento e discussão nas redes sociais.
A fórmula desandou nesta edição. O que figuras como Naiara Azevedo ou Tiago Abravanel foram fazer no BBB? Nenhum deles precisa do prêmio final de R$ 1,5 milhão.
A cantora ainda proporcionou momentos divertidos, ostentando uma grossura quase folclórica. Ele simplesmente se recusou a jogar, chegando a propor que este fosse o "BBB do amor", evitando as tretas que dão Ibope. Ao primeiro sinal de que iria ao paredão, simplesmente pediu para sair.
Abravanel não foi a única "planta", como são chamados os participantes que não fazem nada. O BBB 22 ainda teve a bailarina Brunna Gonçalves, cujo único diferencial é ser casada com a cantora Ludmilla, ou o surfista Pedro Scooby, que fugiu dos conflitos e declarou que não fazia questão de vencer. Assim não dá.
Junte-se a isto um grupo Pipoca sem carisma, incapaz de construir uma narrativa que seduzisse o espectador. A produção até tentou reproduzir fenômenos passados como Juliette e Gil do Vigor, com os insossos Eslovênia e Vyni, respectivamente. Ambos foram eliminados na primeira oportunidade.
Mas o elenco não foi o único problema. Há que se repensar as provas que decidem o líder e o anjo da semana. Repetitivas, aborrecidas, elas pareciam mais preocupadas em desfiar os atributos do patrocinador do que em entreter ou gerar suspense.
Além disso, a maioria delas exigia destreza e força física, o que acabou desequilibrando a competição logo no começo em favor dos homens –dois deles, inclusive, atletas profissionais. O resultado está aí: os seis primeiros colocados são todos do sexo masculino, algo inédito na história do programa.
E ainda teve um paredão falso a apenas três semanas da final, que só serviu para deixar claro que o campeão seria mesmo o ator Arthur Aguiar. Com o resultado antecipado em mais de 20 dias —um quinto da duração do programa— o BBB 22 ficou chocho, desinteressando até os fãs de carteirinha.
A crítica se acostumou a tratar o BBB como um espelho do que vai pela cabeça do brasileiro. As ganhadoras dos últimos anos, mulheres fortes e independentes, foram saudadas como sinais de que uma maré progressista estava a caminho. O que dizer, então, de uma temporada dominada pelos homens do começo ao fim, com seis deles nos primeiros lugares?
Há muito o que se corrigir no ano que vem, porque o público, apesar de tudo, ainda não enjoou do BBB. Mas uma outra edição como esta, povoada por gente chata, disputando provas mais chatas ainda, não será perdoada tão facilmente.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.