A Coleção Folha apresenta uma obra sarcástica de um filósofo conhecido por seu pessimismo –"A Arte de Ter Razão", de Schopenhauer, traduzido por Érica Gonçalves de Castro e Guilherme Ignácio da Silva.
Nascido em Danzig —atualmente Gdansk, na Polônia—, o alemão Arthur Schopenhauer, morto em 1860, se celebrizou sobretudo pelo monumental "O Mundo como Vontade e Representação" e se tornou praticamente sinônimo de uma concepção de mundo pessimista.
O que vemos, contudo, em "A Arte de Ter Razão", de 1831, é uma veia satírica. Pois o que Schopenhauer faz aqui é apresentar 38 estratagemas para vencer qualquer discussão, tendo ou não razão nela. Um livro que ganha atualidade e pertinência na era das mercuriais polêmicas das redes sociais —ou com os debates eleitorais que se anunciam nos próximos meses.
Evocando, logo no início, a "maldade natural do gênero humano", ele afirma que "em quase todos os indivíduos, a vaidade inata está lado a lado com a loquacidade e a desonestidade inata". Por isso, "cada um pretenderá impor sua afirmação, mesmo que esta, por ora, pareça-lhe falsa ou duvidosa".
Para vencer o debate, assim, ele sugere estratagemas como "provocar a ira do oponente: pois irado ele não está em condições de julgar corretamente nem de perceber sua vantagem". "Provocamos sua ira sendo ostensivamente injustos com ele, atormentando-o ou, em geral, sendo insolentes."
Schopenhauer não descarta, inclusive, apelar para a ofensa pura e simples. "Se percebemos que o oponente é superior e não ficaremos com a razão, então devemos nos tornar ofensivos, ultrajantes, rudes", planteia, como último estratagema. E detalha que "tornar-se ofensivo consiste em passar do objeto da disputa (que está perdida) para seu sujeito, atacando-o pessoalmente".
Afinal, "quando nos tornamos ofensivos, abandonamos por completo o objeto e direcionamos o ataque para a pessoa do oponente; assim, tornamo-nos insolentes, maliciosos, ultrajantes, rudes. É um apelo das forças intelectuais às do corpo ou à animalidade".
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