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Diretor de 'Oldboy' soterra sede por violência e sexo e exibe novelão em Cannes

Sul-coreano Park Chan-Wook mescla romance e trama detetivesca em 'Decision to Leave'

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Cannes (França)

Depois de receber o novelão francês "Frère et Soeur", que pouco agradou aos críticos na Riviera Francesa, o Festival de Cannes exibiu mais um drama carregado, mas dessa vez vindo da Coreia do Sul. "Decision to Leave", algo como decisão de ir embora, mostrou como manipular as emoções do público é algo que se pode fazer com classe e originalidade, sem abrir mão de afetações rocambolescas.

cena de filme
Go Kyung-Pyo em cena do filme 'Decision to Leave', de Park Chan-Wook, exibido no Festival de Cannes de 2022 - Divulgação

Não que novelões agradem a todos. As palmas no fim da sessão do longa, neste início da segunda semana do festival, não corresponderam à energia e excitação que contaminavam a sala enquanto os créditos iniciais subiam. Era o efeito Park Chan-Wook, que em seu último longa, "A Criada", de 2016, eletrizou Cannes com uma boa dose de erotismo e sagacidade.

Em "Decision to Leave", ele decidiu soterrar sua sede por sexo e violência, abrindo espaço para uma maior idealização e certa inocência na história de amor da vez. Ela é protagonizada por um detetive sul-coreano que investiga uma morte —tudo aponta para um acidente, mas, astuto do jeito que é, ele não compra a solução óbvia para o caso.

Ao se aprofundar nos acontecimentos que levaram um homem a cair de um enorme penhasco, ele se envolve com a viúva da vítima, também a principal suspeita do que ele acredita ser um homicídio. O protagonista é casado e todo certinho, mas é com muito cuidado que Chan-Wook deixa seu personagem, e também o próprio público, ser seduzido pela mulher.

O amor e a investigação florescem e rendem frutos paralelamente, embalados por uma trilha sonora densa, um tanto óbvia, mas que casa com a afetação e a excentricidade que Chan-Wook já demonstrou em seus trabalhos anteriores. Não estamos falando de um cineasta sutil, e "Decision to Leave" tampouco o é.

O flerte com o onírico se repete, enquanto o sul-coreano mais uma vez deixa seus personagens se perderem no espaço-tempo. O longa nem sempre avança de forma óbvia e cronológica, como foi com "A Criada", a sensação lésbica que apresentava diferentes capítulos e visões para narrar os mesmos fatos.

Chan-Wook tenta ganhar sua primeira Palma de Ouro em Cannes, depois de ter recebido o grande prêmio e o prêmio do júri por "Oldboy" e "Sede de Sangue", respectivamente. A segunda semana do festival reserva alguns dos principais filmes desta edição, mas "Decision to Leave" deve ganhar tração até a cerimônia de encerramento do sábado.

Outro drama pesado recém-exibido na mostra principal foi "Les Amandiers", de Valeria Bruni Tedeschi. Ambientado nos anos 1980, ele acompanha um grupo de alunos da prestigiada escola de atuação francesa que dá nome ao filme, criada por Patrice Chéreau e Pierre Romans.

Não há nada que já não tenhamos visto no cinema, francês ou não. Testemunhamos o amadurecimento de uma juventude inconsequente e sonhadora, que, assim que entra na escola e, portanto, na vida adulta, passa a lidar com uma série de traumas.

Paixão, doença, dinheiro e carreira atraem e opõem os personagens a toda hora, anunciando que suas vidas podem ser tão trágicas quanto as peças que encenam na escola francesa.

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