Imigrantes perguntam o que é um imigrante desejado em exposição em São Paulo

Artistas Anaís Escalona, Shambuyi Wetu e Zé Vicente mostram suas obras no Museu da Imigração em parceria com a Folha

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Uma série de indagações impulsionou a montagem de "Eu Vim de Lá", a principal instalação da mostra que o Museu da Imigração, em São Paulo, que será aberta neste sábado. O que é ser imigrante no Brasil? O brasileiro é mesmo um povo acolhedor? Diferentes fluxos migratórios foram recebidos da mesma forma ao longo das décadas?

A criação de três artistas que vivem na capital paulista —a venezuelana Anaís Escalona, o congolês Shambuyi Wetu e o brasileiros Zé Vicente— não oferece uma resposta fechada, mas desloca sentidos e lança reflexões por meio de colagens, recortes, bordados e uma escultura.

A venezuelana Anaís Escalona, o brasileiro Zé Vicente e o congolês Shambuyi Wetu em meio à instalação 'Eu Vim de Lá', no Museu da Imigração, em São Paulo - Gabriel Cabral/Folhapress

Inicialmente, eles fizeram uma extensa pesquisa nos acervos fotográficos do museu e da Folha, instituições parceiras na realização da mostra. Essa busca por imagens de diferentes períodos se somou às vivências dos artistas. Escalona trocou Caracas por São Paulo há 16 anos, e Wetu deixou Kinshasa, capital da República Democrática do Congo, rumo à capital paulista oito anos atrás.

"Tínhamos a intenção de desconstruir um discurso colonialista ao qual estamos acostumados", afirma Zé Vicente, que também assina a curadoria ao lado de Rachel Amoroso. "No começo do século 20, quem eram os imigrantes desejados pelo Brasil? Quais são os desejados hoje? O que as fronteiras dizem sobre os nossos preconceitos?"

Ao falar em "imigrantes desejados", ele se refere principalmente aos europeus estimulados a se mudar para o Brasil no final do século 19 e no começo do 20, quando as ideologias de branqueamento eram bastante populares por aqui.

A partir de questões como essa, os artistas criaram uma colagem com centenas de imagens, que ligam imigrantes de diversas origens e épocas. "Ao recortar uma fotografia, fica faltando um pedaço –de um corpo, de uma história, de um lugar. Ao reagrupar em outro contexto, as infinitas combinações brotam de forma espontânea e são ressignificadas a cada olhar", diz Zé Vicente.

Segundo Wetu, a intenção é apresentar de maneira realista as dificuldades de quem troca o país natal por uma terra desconhecida.

Shambuyi Wetu, congolês radicado em São Paulo, é um dos artistas da exposição no museu localizado na Mooca - Gabriel Cabral/Folhapress

Ao lado dessa estrutura com colagens e recortes, montada no primeiro andar do museu, há uma série de bandeiras de tecido, elaboradas pelas Emprendedoras sin Fronteras, uma cooperativa formada por costureiras da Bolívia e de outros países da América Latina. Numa delas, o bordado anuncia "o Brasil não recebe a cabeça do imigrante, recebe apenas o seu corpo".

Segundo Anaís Escalona, "o imigrante é valorizado no Brasil para o trabalho manual, recebendo valores baixos, e não para trabalhos intelectuais ou artísticos". "Esse não é o único espaço que o imigrante pode ocupar no país."

A exposição se estende pelo jardim. Ao avançar em direção à construção de 1887, a antiga Hospedaria de Imigrantes convertida em museu, o visitante será recebido por um totem criado a partir de uma performance de Wetu intitulada "Bagagem". Representa, como afirma Rachel Amoroso, a desorientação de um refugiado ao desembarcar no país.

A mostra abre neste sábado, às 11h. Ao meio-dia, o museu recebe show da banda La Caravana Orquestra, formada por 11 instrumentistas, de países como Chile, Cuba e Venezuela.

Eu Vim de Lá

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.