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Brasil pode fazer mais pelos refugiados que acolhe

É preciso ampliar a assistência pós-chegada, não só por altruísmo, mas em benefício do país

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Flávia Mantovani
Flávia Mantovani

Repórter de Mundo e autora do blog Babel Paulistana

A caminho do aeroporto de Guarulhos, onde acompanhei para esta Folha a chegada de refugiados ucranianos, o motorista do Uber me contava os contratempos que seu nome italiano, Michele, lhe trazia, por ser mais comum em mulheres no Brasil. Me explicou que seu pai veio da Itália fugindo da Segunda Guerra e achou perturbador que a história estivesse se repetindo sete décadas depois.

Destino de dezenas de milhares de europeus em meados do século 20, o Brasil voltou a ter relevância na rota das migrações forçadas internacionais nos anos 2010, ao criar vistos humanitários para haitianos e sírios. Posteriormente, o êxodo venezuelano levou esse cenário a outro patamar, com o número de solicitações de refúgio saltando de 10 mil para 82 mil de 2016 para 2019.

Agora, a concessão de vistos humanitários é também o que atrai afegãos e ucranianos —especialmente os primeiros, para quem as portas se fecharam no restante do mundo. A regularização facilitada é um gesto bem-vindo, e a Lei de Migração de 2017, um exemplo de arcabouço jurídico avançado no setor.

Uma vez no Brasil, porém, esses imigrantes ficam sem apoio oficial e encaram gigantescas barreiras para alugar moradia, revalidar diplomas e conseguir emprego. ONGs e igrejas tentam preencher esse vácuo, mas estão concentradas em poucas cidades. A Operação Acolhida, em RR, é uma ação governamental relevante, mas atende só aos venezuelanos.

Com o número de deslocados à força crescendo ano a ano no mundo, e com menos de 1% de sua população composta por imigrantes, o Brasil pode e deve continuar recebendo esses refugiados, projetando-se como líder regional nessa área.

Falta, porém, ampliar as políticas de assistência pós-chegada, o que deve ser feito não só por altruísmo, mas em benefício próprio —estudos mostram que imigrantes integrados pagam tributos e geram empregos e riqueza cultural ao país que os acolhe, uma contribuição difícil de mensurar, mas fácil de perceber na formação da sociedade brasileira.

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