Conheça novas editoras que apostam em livros de artista, que chegam a valer R$ 7.000

Familia Editions e a Act.Editora miram edições que divulgam arte brasileira contemporânea com nomes como Rosana Paulino

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São Paulo

Obras de arte que você pode encostar e manusear, e livros que são obras de arte em si. É nesse híbrido que estão os livros de artista, aposta de editoras criadas nos últimos anos no Brasil dedicadas a nomes nacionais.

Numa tiragem de 500 exemplares, Rosana Paulino, agora na Bienal de Veneza, reuniu sua série de desenhos "Búfala e Senhora das Plantas" numa publicação de cores quentes. Já Lenora de Barros, outra brasileira que está no principal evento de arte do mundo, tem suas colunas no Jornal da Tarde num fac-símile bem vertical, assim como espaço dado a ela no jornal nos anos 1990.

Fotografia de livro de capa vermelha, com gravura do lado esquerdo
O livro de artista de Rosana Paulino, feito pela Familia Editions - Maria Lago/Divulgação

"Os livros de artista são livro-obras", define Maria Lago, criadora da Familia Editions, fundada em 2018 e responsável pelas edições das duas artistas brasileiras na Bienal de Veneza. A editora centrada em arte contemporânea brasileira já reúne publicações de nomes como Dalton Paula e Regina Parra.

Os trabalhos desenvolvidos com Lago e outros funcionários da Famlia, segundo ela, são resultado de um processo íntimo com cada artista. "Com cada um deles tenho uma anedota", conta ela. "Lembro de estar com Ivan Grilo num frio de -10 ºC, por exemplo, atrás de papéis para a edição."

As edições de tiragem limitada já estão em coleções institucionais de espaços como o Museu de Arte Moderna de Nova York, o MoMA, a Fundação Gulbenkian, em Lisboa, e o Reina Sofía, em Madri, além de museus brasileiros de grande porte.

São publicações que diferem radicalmente entre si nas dimensões, materiais e processo de elaboração —e também nos preços. Soa um tanto espantoso um livro chegar às cifras de R$ 7.000, caso da edição especial da artista Regina Parra, feita com o projeto 55SP, que é acompanhada por uma máscara de látex e um suporte para pendurar o acessório.

Fotografia de livro aberto com reprodução de pintura a direita e página em branco à esquerda
O livro de artista de Regina Parra, feito pela editora Família Editions - Laura Martínez/Divulgação

Lago diz que, nesse cenário, tenta fazer com que trabalhos sejam mais acessíveis —há várias edições na casa dos R$ 400. "É necessário um certo processo pedagógico, de educação do público para entender o que é um livro de artista. Muitas pessoas me perguntam se são livros de arte, sobre arte, e não são", diz ela.

"E é um objeto que você pode tocar, transportar, mas que é uma obra. Ele é valioso, mas também há uma proximidade com o objeto."

No Brasil, a finada Cosac Naify e a tradicional Ikrek já movimentam esse mercado. A última, criada em há dez anos, desde 2014 publica esse tipo de edição artística tanto de nomes brasileiros quanto de estrangeiros.

Não é um mercado fácil financeiramente. Apesar de o país ter visto um salto de vendas no mercado editorial, Lago, por exemplo, afirma que não é simples manter a editora de maneira autossustentável, ainda que consiga. Existe ainda uma barreira do mercado digital, que não é um formato possível para esse tipo de publicação, que depende do toque, do cheiro, enfim, de uma experiência física com a obra.

Há quem veja nisso um investimento com potencial para retornos financeiros. É o caso da Act. Editora, criada em 2020 como um braço editorial da empresa Art Consulting Tool.

Fotografia de livro de artista com reprodução de pinturas
'Saboneteiras', livro de artista da Ana Elisa Egreja feito pela Act. Editora - Rodrigo Lins/Act. Editora/Divulgação

João Paulo Siqueira Lopes, um dos que comanda a empresa, afirma que já na primeira edição que lançaram se surpreenderam com as vendas. O livro "20 em 2020: Os Artistas da Próxima Década - América", também da empresa, foi indicado ao prêmio Jabuti no ano passado.

Depois de fazerem essas edições voltadas para o mercado de arte, eles estrearam o catálogo de livros de artista com "Saboneteiras", com a série de quadros de mesmo nome de Ana Elisa Egreja. A empresa já mira publicações de Dalton Paula e Maria Lira Marques, por exemplo.

A publicação de Egreja reúne reproduções da série da artista com textos de Jac Leirner, Carola Saavedra e Ann Gallagher. "Sentimos que muitos artistas que estão em meio de carreira, ou até já estabelecidos em nível nacional, ainda não tem uma publicação desse tipo", afirma João Paulo Siqueira Lopes, justificando a entrada da editora nesse nicho.

Apresentar uma produção brasileira contemporânea parece unir esses nomes, que veem nesse híbrido de obra e livro uma possibilidade de fazer esses artistas circularem ainda mais. "Tenho como missão divulgar a cultura e diversidade da produção brasileira, e através do uso dos livros de artista", diz a dona da Familia.​

Familia Editions

Saboneteiras

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