Descrição de chapéu Obituário Maria Fernanda (1928 - 2022)

Morre a atriz Maria Fernanda, filha de Cecília Meireles, aos 96 anos

Conhecida por viver papéis clássicos no teatro, como Blanche Dubois e Ofélia, ela foi vítima de complicações respiratórias

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São Paulo

Morreu, no final da tarde deste sábado, a atriz Maria Fernanda Meireles Correia Dias, aos 96 anos, em decorrência de complicações respiratórias. Ela estava internada desde a terça-feira na Casa de Saúde São José, no bairro do Humaitá, zona sul do Rio de Janeiro.

A informação foi confirmada por Daniel Marano, ator e professor da Casa das Artes de Laranjeiras, a CAL, que passou os últimos sete anos pesquisando sobre a vida e a obra da atriz.

Filha da poeta Cecília Meireles, Maria Fernanda teve uma carreira ligada ao palco, onde atuou por 70 anos. Ela encenou obras de grandes autores do teatro, como Tchékhov, Jean Genet, Brecht e Shakespeare. Não por acaso, o início de sua vida profissional foi com a primeira montagem de "Hamlet" no país, em 1948, interpretando a personagem Ofélia.

Maria Fernanda e o escritor mineiro Lucio Cardoso nas filmagens de 'A Mulher de Longe', longa dirigido pelo autor mineiro que nunca foi concluído por falta de recursos - Ruy Santos/Divulgação

Uma década depois, no fim dos anos 1950, Maria Fernanda se consagrou como Blanche DuBois na peça "Um Bonde Chamado Desejo", de Tennesseee Williams, que ficou quase dez anos em seu repertório. Em 1968, ela foi presa pela Polícia Militar enquanto apresentava a peça em Brasília.

O caso gerou revolta entre a classe artística, que se mobilizou em uma greve com duração de 72 horas. A Passeata da Cultura Contra a Censura, em que atrizes protestaram lado a lado na Cinelândia, no centro do Rio de Janeiro, pela liberdade de expressão, foi uma das consequências da greve.

Segundo Marano, o professor da CAL, só Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg têm a mesma importância na dramaturgia brasileira. "Ela ajudou a inventar a noção de ator moderno aqui no país, era muito culta e, quando percebeu que o nível das montagens havia caído, lá nos anos 1990, preferiu se retirar", ele diz.

De acordo com Eduardo Barata, do colegiado da Associação dos Produtores de Teatro do Rio de Janeiro, a APTR, Maria Fernanda se distinguiu pela formação intelectual e a valorização do texto. "Ela é uma escola de interpretação, às vezes dizemos que um papel é 'tipo Maria Fernanda'", ele conta. "O realismo e o naturalismo entravam no palco e conviviam com a técnica."

No cinema, a atriz participou de filmes na Atlântida e Vera Cruz, importantes estúdios da época. Em 1979, viveu Joana Angélica no filme de mesmo nome dirigido por Walter Lima Júnior e, em 1995, foi dona Maria 1ª, a rainha louca, em "Carlota Joaquina, Princesa do Brazil", de Carla Camurati. Na televisão, é lembrada pelas novelas "Gabriela", de 1975, e "Pai Herói", de 1979.

Segundo Barata, Maria Fernanda conseguia tornar popular a erudição dos clássicos do teatro. "Ela chegou a fazer Shakespeare com linguagem coloquial", ele diz. "As novas gerações devem se lembrar dessa importante atriz, sabendo como é importante estudar e o quanto o teatro é importante para o exercício da cidadania."

Maria Fernanda foi casada com o diretor de TV Luiz Gallon e deixa o filho Luiz Fernando. A família não divulgou informações sobre o velório.

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