O cantor Tom Zé afirmou que era xingado de bicha quando cantava como João Gilberto. "É banal, mas ao mesmo tempo muito esclarecedor, que, quando João Gilberto surgiu e alguns de nós garotos começamos a cantar daquela maneira dele, os outros meninos gritavam ‘bicha, bicha’. Queriam dizer ‘feminino, mulher’, o que era entendido como ofensivo."
A declaração do artista, um dos principais nomes da música brasileira aos 85 anos, foi feita em entrevista à Folha publicada nesta sexta-feira. Ele lança seu novo trabalho, o disco "Língua Brasileira", inspirado em uma peça homônima feita em parceria com o diretor de teatro Felipe Hirsch.
O músico baiano natural de Irará apontou também a natureza feminina na língua portuguesa falada no Brasil. "O feminino está na base da língua e da cultura brasileira", afirmou Tom Zé. Foi quando ele fez o comentário sobre o músico João Gilberto, que morreu em 2019.
Um dos artistas mais marcantes da história da música popular, João Gilberto foi o inventor da bossa nova, gênero que marcou a cultura brasileira a partir da segunda metade do século 20. Após reverenciar o estilo criado pelo conterrâneo, Tom Zé foi um dos que se puseram à frente do movimento tropicalista. Produto da década de 1960, o movimento foi reconhecido como contrastante em relação à bossa nova e foi encorpado também por músicos como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Gal Costa.
Mais de 50 anos depois de o movimento ter sido dissolvido pela repressão da ditadura militar, Tom Zé também criticou os rumos políticos do Brasil no presente. "Políbio, historiador da Grécia Antiga, conta de um povo que esqueceu suas lendas, suas adorações, enfim, sua cultura, e foi decaindo até a barbárie. O Brasil está ameaçado disso", afirmou o músico em referência à desvalorização da cultura no país.
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