Descrição de chapéu
Artes Cênicas

Gerald Thomas constrói um sofisticado labirinto no espetáculo 'F.E.T.O.'

Peça do diretor também é, ao mesmo tempo, uma disposição aleatória de imagens desconexas que só servem para fascinar

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'F.E.T.O. (ESTUDOS DE DOROTEIA NUA DESCENDO A ESCADA)'

  • Quando Qua., sex., e sáb., às 21h, e dom., às 18h. Até 28/8
  • Onde Sesc Consolação - r. dr. Vila Nova, 245, Vila Buarque, São Paulo
  • Preço De R$ 15 a R$50
  • Classificação 16 anos
  • Elenco Fabiana Gugli, Rodrigo Pandolfo e Raul Barreto
  • Direção Gerald Thomas

Gerald Thomas encarna a ideia clássica de encenador. Seus espetáculos são marcados pela composição de visualidades que se desenvolvem no espaço e no tempo e se materializam como quadros em movimento. O palco é o anteparo sobre o qual ele cria, se valendo da série de recursos que o teatro oferece –a iluminação, o maquinismo, as palavras, o som e também suas atrizes e atores.

Não estranha, portanto, que ele junte ao seu estudo livre da peça de Nelson Rodrigues, "Doroteia", referências a obras visuais do vanguardista Marcel Duchamp e do pintor Iberê Camargo.

Cena da peça 'F.E.T.O (Estudos de Doroteia Nua Descendo a Escada)', novo espetáculo de Gerald Thomas, no Sesc Consolação
Cena da peça 'F.E.T.O. (Estudos de Doroteia Nua Descendo a Escada)', novo espetáculo de Gerald Thomas, no Sesc Consolação - Karime Xavier/Folhapress

A figura do encenador moderno também se tornou, ao longo do século 20, uma espécie de eixo centralizador do espetáculo, o astro em torno do qual tudo deveria girar. Gerald Thomas sempre ocupou com entusiasmo essa posição.

Em "F.E.T.O. - Estudos de Doroteia Nua Descendo a Escada)", como em tantos outros de seus trabalhos, ele faz questão de sublinhar que é ele quem está por trás daquela profusão de imagens vivas, que é o cérebro e a alma da cena. Sua voz percorre todo o espetáculo; atores falam sobre ele; e, de repente, ele aparece no palco, conduzindo o andamento de uma cena com a atriz Fabiana Gugli.

Gerald Thomas está sempre lá, envolvido de corpo e alma, a conduzir aquele conjunto espantoso de elementos simbólicos e enigmáticos que parecem ter muito a dizer sobre a catástrofe atual, sobre o moralismo, sobre o teatro de Nelson Rodrigues, sobre a insuficiência da arte. Mas será que têm mesmo?

Seus espetáculos são máquinas formidáveis de produzir imagens caleidoscópicas que parecem querer elaborar a desordem da vida atual. E este não é diferente. Com décadas no ofício, Gerald Thomas maneja muito bem os elementos da cena e deixa transparecer a intensidade borbulhante, fragmentada e contraditória de como ele mesmo vê o mundo.

Por outro lado, na longa carreira de Gerald Thomas, a sensação de déjà-vu é cada vez mais presente. Talvez seja um tipo de insistência obsessiva de um artista atormentado com o caos da vida, talvez seja apenas repetição de velhas fórmulas e velhos efeitos espetaculares que funcionam e que encantam.

Por um lado, "F.E.T.O." se apresenta como um sofisticado labirinto a ser decifrado. Por outro, fica a sensação de que tudo aquilo é somente uma disposição aleatória de imagens fortes, referências desconexas e veleidades de seu criador envolvidas no papel brilhante de um espetáculo cheio de recursos para fascinar. Provavelmente é um pouco de cada coisa.

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