Fanfarrão, Heitor Villa-Lobos nunca exercitou a falsa modéstia. "Eu não vim para estudar com ninguém. Vim mostrar o que fiz", disse, em 1923, ao chegar a Paris. Segundo ele, o Brasil poderia estar no centro do mundo. Em outubro, a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, a Osesp, cumpre o ideal do compositor, tocando, sob regência de Marin Alsop, dois programas no Carnegie Hall, em Nova York.
É a primeira vez que uma orquestra da América do Sul se apresenta na temporada oficial da famosa sala de concertos dos Estados Unidos. A Osesp toca na mesma leva em que as Filarmônicas de Berlim e de Viena, as duas melhores orquestras do mundo, na série da sala dedicada às companhias estrangeiras.
O diretor artístico da Osesp, Arthur Nestrovski, conta que as negociações com o Carnegie Hall começaram há uma década. "Tudo isso foi construído com trabalho, eles não vieram bater à nossa porta." A turnê passará ainda pelo Helzberg Hall, em Kansas City, no estado americano de Missouri, e pelo The Music Center at Strathmore, em North Bethesda, em Maryland.
Pródigos em peças de Villa-Lobos, os dois programas, antecipados na Sala São Paulo, vão se concentrar em obras de autores brasileiros, como Tom Jobim, Clarice Assad e Edino Krieger.
A Osesp mostra sua razão de existir ao divulgar a obra de Villa-Lobos e representar a cultura brasileira no tabuleiro da política internacional. Nestrovski lembra, por exemplo, o empenho da fundação ao gravar, na década passada, as sinfonias de Villa-Lobos, com revisão das partituras feitas pelo centro de catalogação da orquestra.
Nos países com mais tradição na música clássica, o entusiasmo pela América Latina nunca foi constante. Mas agora as principais salas de concerto se abrem para novos repertórios. Para o público brasileiro, ainda há tempo de assistir, de quinta a sábado, ao segundo programa apresentado no Carnegie Hall, intitulado "Floresta Villa-Lobos".
Serão tocadas 11 peças, sem intervalos, e com a projeção de um filme de Marcello Dantas, gravado em biomas do país. Entre as peças, destaque para "Choros nº5 – Alma Brasileira", com a pianista Olga Kopylova, e "Choros nº10 – Rasga Coração", em que o trompetista Fernando Dissenha fica a cargo de solo exuberante.
Perguntada sobre por que Villa-Lobos não goza de tanto prestígio no exterior, Marin Alsop diz, em tom de brincadeira, que há "dificuldades de entender a música clássica". "As pessoas tocam as mesmas músicas. Só sei que, quando ouvirem Villa-Lobos, as pessoas em Nova York vão delirar."
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.