Jean-Luc Godard, ícone da nouvelle vague morto aos 91 anos, inspirou e continua inspirando gerações de diretores, mas não foi só no cinema que sua influência foi sentida. Na música, o franco-suíço foi presença constante, e nem é preciso ir longe para notar.
Aqui no Brasil, foram vários os cantores e bandas que homenagearam o autor de "Acossado" e "Uma Mulher É Uma Mulher" em suas letras.
Talvez o exemplo mais óbvio seja "Eduardo e Mônica", em que o Legião Urbana falava de um rapaz que queria ir a uma lanchonete, enquanto sua pretendente "queria ver um filme do Godard".
Além do grupo de Renato Russo, também mostraram gosto pelo cinema do franco-suíço os Paralamas do Sucesso, Caetano Veloso e Gilberto Gil. Confira, abaixo, algumas das menções a Godard na música brasileira.
'Eduardo e Mônica', Legião Urbana
Na música inspirada nos casais que são extremos opostos, Renato Russo canta sobre como Eduardo é diferente da pretendente Mônica, uma mulher intelectualizada e que gosta de programas culturais. Quando tentam combinar um encontro, ele sugere uma lanchonete e ela, uma sessão de cinema.
"Eduardo e Mônica trocaram telefone/ Depois telefonaram e decidiram se encontrar/ O Eduardo sugeriu uma lanchonete/ Mas a Mônica queria ver um filme do Godard."
'Cinema Novo', Gilberto Gil e Caetano Veloso
Carregando o movimento influenciado pela nouvelle vague já no título, a canção dos anos 1990 traz Gil e Caetano construindo versos a partir de vários nomes de filmes. Entre eles está uma das maiores obras de Godard, "Acossado".
"E o filme disse: 'Eu quero ser Poema'/ Ou mais: 'Quero ser filme e filme-filme'/ 'Acossado' no 'Limite' da 'Garganta do Diabo'/ Voltar à Atlântida e ultrapassar 'O Eclipse'/ Matar o ovo e ver a Vera Cruz."
'Selvagem', Paralamas do Sucesso
Logo após um dos principais títulos da filmografia de Godard, "Eu Vos Saúdo, Maria", ter sido censurado no Brasil por supostamente atacar a fé católica, os Paralamas do Sucesso resolveram citar o caso em sua crítica musicada à diferentes instituições e ao cenário político dos anos 1980.
"O governo apresenta suas armas/ Discurso reticente, novidade inconsistente/ E a liberdade cai por terra/ Aos pés de um filme de Godard."
'Sam', Skank
Em outra música que fala de encontros amorosos, Samuel Rosa, do Skank, também cantou sobre assistir a um filme do Godard.
"Cineclube à tarde/ Filme de Godard e Bergman/ Nunca mais vou esquecer, te conheci na vida/ Te conheci num fim de ano."
'Cinema', Cachorro Grande
Outro conflito entre duas personalidades completamente opostas foi criado na canção do Cachorro Grande. Nela, o eu-lírico reclama do gosto cinematográfico do outro, que chora em filmes natalinos.
"Então você acha normal/ Chorar nos filmes de natal?/ Que quando passou na TV/ E você não queria ver?/ Daí você botou Godard/ Só pra me incomodar."
'Carecas do Jamaica', Nei Lisboa
Na canção de Nei Lisboa, ele denuncia a desigualdade social no Brasil e também a noção de cultura das elites. Após Glauber Rocha, há uma citação a Godard, colada a críticas à fome no Nordeste. Vale lembrar que a nouvelle vague que o franco-suíço ajudou a fundar se notabilizou justamente por retratar questões sociais e políticas urgentes, de forma crua e crítica.
"Vinde a mim as criancinhas do Nordeste/ Que eu ensino a fome a receber cachê/ Deixa estar, Godard, que a estrela do Oriente/ Nos enreda nessa rede de TV."
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