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Televisão

'Hebe - Um Brinde à Vida' expõe contradições da artista no Globoplay

Após duas produções de ficção, plataforma lança uma versão documental passados dez anos da morte da apresentadora

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Hebe – Um Brinde à Vida

Hebe Camargo é um assunto inesgotável. Dez anos depois de sua morte, a trajetória da apresentadora já rendeu um filme, uma minissérie dramática em dez episódios e, agora, uma minissérie documental, disponível desde a semana passada na plataforma Globoplay.

Por trás desses três projetos está a roteirista Carolina Kotscho. Em "Hebe - Um Brinde à Vida", ela divide o roteiro e a direção com Clara Ramos e aproveita muito das pesquisas que fez para escrever o longa "Hebe - A Estrela do Brasil", que estreou em 2019, e a série "Hebe", lançada no ano seguinte.

A apresentadora Hebe Camargo sorri em cena da série documental 'Hebe - Um Brinde à Vida'
A apresentadora Hebe Camargo em cena da série documental 'Hebe - Um Brinde à Vida' - Frame/Folhapress

A nova empreitada mergulha mais fundo na intimidade e nas diferentes facetas de Hebe Camargo, que integrou a linha de frente da televisão brasileira por mais de 60 anos. Na verdade, a história de ambas se confunde várias vezes.

"Hebe - Um Brinde à Vida" não dá destaque a datas precisas nem registra as idas e vindas da apresentadora por quase todas as redes comerciais da TV aberta. A mais notória exceção é justamente a Globo —e não deixa de ser irônico que tanto o longa quanto as séries tenham sido produzidos pelo grupo da emissora.

Cada um dos quatro episódios explora uma característica de Hebe. O primeiro, "Linda de Viver", é o mais "biográfico" de todos, no sentido de ser o que mais fala de sua infância e do começo de sua carreira. A jovem paulista de Taubaté que se lançou como cantora na década de 1940 nem fazia ideia de que se tornaria uma espécie de rainha de um veículo que ainda nem existia no Brasil, a televisão.

O segundo episódio, "As Loucuras que Já Fiz", foca sua vida pessoal. Ficamos sabendo de minúcias de seus dois casamentos —o primeiro, com Décio Capuano, que durou seis anos, e o segundo, com Lélio Ravagnani, que durou 21 e só terminou com a morte do empresário, em 2000.

Os dois maridos eram ciumentos e não lidavam bem com o sucesso da apresentadora. Hebe passou por períodos difíceis com ambos. Mas é importante dizer que a série não comete indiscrições —praticamente todos os detalhes íntimos saíram da boca da própria Hebe, que foi ficando cada vez mais franca e transparente com o passar dos anos.

"Eu tenho tesão no Roberto Carlos", afirma ela, em entrevista a Marília Gabriela. Vai além. Diz que não pensava em namorar o cantor, mas gostaria de ter uma noite de sexo com ele (ou várias). É fabuloso ver uma mulher madura falando tão abertamente de seus desejos. Hebe era, assumidamente, uma mulher que gostava de transar e não se envergonhava disso.

"Eu Tenho Microfone!", o terceiro episódio, envereda pelo lado político de Hebe Camargo. Foi a partir de seu programa da Band, nos anos 1980, que a apresentadora foi ficando mais crítica aos poderosos de plantão, coincidindo com a redemocratização do Brasil. Hebe fazia coisas impensáveis para os dias de hoje, como trazer ao palco um bolo coberto por moscas falsas, identificadas com os nomes de figurões políticos da época.

Ela era conservadora, mas profundamente democrática. Recebeu Lula e outros líderes de esquerda em seu sofá, ao mesmo tempo em que venerava Paulo Maluf. Também fez campanha aberta por Fernando Collor. Depoimentos de amigos e jornalistas ressaltam que Hebe se desencantou com ambos e deixou de apoiar os políticos.

Esse episódio também resgata vários momentos da histórica entrevista que ela deu ao Roda Viva em 1987 e ressalta os 14 minutos em que falou sozinha, no final do programa, sem ser interrompida. Hebe era o equivalente humano a um buraco negro sideral, atraindo para si todas as câmeras e atenções.


"Eu Não Tenho Medo de Morrer, Tenho Peninha", o quarto e último capítulo, trata do câncer e dos últimos anos de Hebe, ressaltando a alegria de viver que ela ostentou até o último minuto.

"Hebe - Um Brinde à Vida" traça com leveza um retrato complexo de um dos maiores ícones do showbusiness brasileiro de toda a história. Hebe Camargo era careta e ousada ao mesmo tempo. De direita, mas com uma crispada consciência social. Pouco culta, mas com uma enorme vontade de aprender e, principalmente, de ouvir os outros. Tampouco se furtava a dar opiniões.

A série termina com a pergunta inevitável —como estaria ela reagindo aos tempos bárbaros que correm?

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