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Julián Fuks sofre ameaça de morte após bolsonaristas distorcerem seu artigo

Apoiadores do presidente tiraram palavra 'terrorista' do contexto em coluna escrita pelo autor de 'A Resistência'

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São Paulo | UOL

O escritor e colunista do UOL Julián Fuks sofreu ameaça de morte e agressões verbais após filhos do presidente Jair Bolsonaro, do PL, aliados e a Jovem Pan News distorcerem o conteúdo de sua coluna publicada no último sábado. Os ataques começaram no dia seguinte e ocorrem desde então.

julian fuks fala em microfone
O escritor Julián Fuks, autor de 'A Ocupação' e 'A Resistência', vencedor do prêmio Jabuti - Mastrangelo Reino/Folhapress

Julián Fuks —que publica aos sábados críticas e análises políticas e de arte no UOL— escreveu uma crônica em que critica a decisão do governo federal de tratar o coração de dom Pedro 1º com pompas de chefe de Estado no próximo Sete de Setembro, quando será comemorado o bicentenário da Independência do Brasil.

Fomentados por notícias e posts distorcidos, os ataques virtuais contra o colunista envolvem mensagens com ameaças. Entre elas, de natureza xenofóbica —Fuks é filho de argentinos, nasceu e mora no Brasil e tem dupla nacionalidade— e até mesmo uma ameaça de morte.

Na crônica intitulada "Precisa-se de Terrorista, Capaz de um Ato Sutil que Transforme a História", Fuks emprega a palavra "terrorista" para criticar os festejos oficiais do Sete de Setembro. O termo foi, contudo, tirado do contexto e distorcido por apoiadores de Bolsonaro.

Os bolsonaristas também omitiram o fato de Fuks tratar em sua crítica de uma ação pacífica a ser executada por alguém com aversão a sangue e crueldade —nas palavras do colunista, um "[terrorista] não desses violentos, nunca desses intolerantes e truculentos, jamais desses sanguinários e grosseiros". Pela descrição, fica evidente que a figura evocada é a de um "não terrorista".

"Tudo tem sido divulgado como se eu estivesse incitando um ato terrorista real contra o presidente no Sete de Setembro —numa leitura completamente manipulada e desleal", afirmou Fuks.

Em seu perfil no Twitter, o senador Flávio Bolsonaro, do PL do Rio de Janeiro, reproduziu um link de um site bolsonarista que distorce a crônica de Fuks e escreveu "a esquerda ameaçando a democracia, de verdade!". O senador marcou no post os perfis do STF, o Supremo Tribunal Federal, e do ministro Alexandre de Moraes.

O vereador carioca Carlos Bolsonaro, do Republicanos, compartilhou no Twitter o mesmo link e afirmou com ironia "se é pela democracia, é democrático e constitucional!".

O ex-secretário especial de Cultura Mario Frias disse, em sua conta no Instagram, que Fuks "clama por um terrorismo contra o presidente". O aliado do clã Bolsonaro também afirma que o escritor "não será incluído em nenhum inquérito nem será chamado de golpista".

Tanto Flávio Bolsonaro quanto Frias fazem referência, sem citar nominalmente, medidas tomadas pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, contra empresários apoiadores de Jair Bolsonaro que defenderam em um grupo fechado de WhatsApp um golpe de Estado caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, vença as eleições.

Já a Jovem Pan News destacou em mesa de comentaristas que o "colunista do UOL defende a contratação de um terrorista para atrapalhar os atos de Sete de setembro".

"Desconsideram o teor e a natureza do texto, para forjar um crime que não há. Atacando a mim, querem atacar o UOL e a imprensa de maneira geral, assim como qualquer visão que destoe de sua posição ideológica", afirma Fuks.

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