Descrição de chapéu Televisão

Não se posicionar agora é estar do lado errado da história, diz Bruno Gagliasso

Ator protagoniza 'Santo', nova série da Netflix em que ele faz o papel de um sombrio policial federal da Espanha

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Madri

"Antes de ser ator, sou humano. Faz parte da existência humana se posicionar e, hoje, não se posicionar é escolher o lado do opressor", declara Bruno Gagliasso ao fim de um passeio por Madri visitando locações da série que protagoniza e estreia nesta sexta (16), na Netflix. "A gente é um ser político".

O ator está acostumado a falar verdades. Mas ali, diante das escadarias da entrada principal do Museu Rainha Sofia, suas declarações soam ainda mais fortes: "Quando uma minoria é atacada, massacrada e você tá vendo isso e escolhe não se posicionar...".

A pausa é dramática, mas não de mentira. "Você vê tudo isso e escolhe não se posicionar", continua, "na verdade você já está se posicionando do lado das coisas que estão erradas".

Numa época em que artistas ainda hesitam em ser transparentes, Gagliasso escancara suas opiniões. Menos de um mês atrás, publicou para seus 21 milhões e meio de seguidores do Instagram uma foto beijando Lula, que está à frente de todas as pesquisas eleitorais para a presidência da república.

No início de setembro, no mesmo Instagram, compartilhou um vídeo sobre sua escolha para deputado estadual no Rio, Wesley Teixeira (PSB-RJ). "É nossa obrigação", retoma o ator na nossa conversa madrilenha. "A arte está em perigo. Você, como comunicador, também sabe disso", lembra ele ao falar do atual cenário cultural no Brasil. "Mas tudo passa, a arte fica".

Inclusive este seu último trabalho, que Bruno Gagliasso rodou durante o ano passado, por oito meses, em Madri. A caçada ao bandido que dá nome a série começa em Salvador, mas a maior parte da história se desenrola na Espanha.

Foi um período longo de trabalho que o obrigaria a ficar longe da família. A princípio ele achou que aguentaria. "Depois de três meses aqui, comecei a ficar agoniado. Eu estava com um bebê pequeno e dei um jeito de ficar mais perto: trouxe eles para Lisboa".

Quando a saudade batia, Gagliasso escapava para um fim-de-semana na capital portuguesa, para onde se mudaram sua mulher, a atriz Giovana Ewbank, e os filhos: a mais velha Títi, de 9 anos, Bless, 7, e o caçula Zyan, 2. "Minha família é o que me move".

Isso ficou claro no episódio de racismo que explícito que Títi e Bless sofreram em julho passado em Costa de Caparica, no litoral português. Uma mulher branca xingou as crianças e a mãe partiu para o ataque.

Gagliasso estava presente e aprovou integralmente a atitude de Ewbank. "A gente recebeu apoio de todo mundo", conta o pai. "Racismo é crime e precisa ser punido, discutido, precisa de ação".

Num tom firme, Gagliasso completa: "Temos um papel fundamental nisso porque somos brancos. A gente que começou essa porra, então a gente precisa combater, é o mínimo".

O casal, que tem uma parceria forte e admirada no mundo artístico e das celebridades, é conhecido por querer construir uma sociedade melhor para os seus filhos. Ainda que isso signifique muitas vezes proteger as crianças de alguns trabalhos do próprio pai.

"O que eu faço como ator vai influenciar a vida dos meus filhos", diz Gagliasso, "mas para frente eles vão poder entender melhor seus personagens. Meu trabalho no filme 'Marighella', por exemplo; sei que eles vão ter muito orgulho do que eu fiz, de o pai ter participado dessa história".

Vai demorar também para Títi, Bless e Zyan admirarem o pai em "Santo". Ernesto Cardona, o policial federal interpretado por Gagliasso é um personagem sombrio. Há um fascínio psicológico em torno do criminoso e Cardona, ao longo dos episódios, muitas vezes é seduzido pelo culto a Santo.

"Foi a preparação mais intensa que já vivi", explica. "Eu trabalho com a Fátima Toledo [preparadora de elenco] há anos, mas esse foi o personagem mais difícil de se construir". O resultado, como é possível ver a partir de hoje, é impecável. Cardona, nas suas perturbações, tem a mesma verdade do ator que o interpreta.

"A gente pode falar de tudo quando leva a vida com verdade. Ela é reveladora, libertadora. Nós somos a mesma pessoa: sou público, sou artista, sou humano, sou pai. Eu sou isso".

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.