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Televisão Emmy

Emmy Awards 2022 atira para todo lado na era da TV compartimentada

Ausência de unanimidades, com prêmios para 'Round 6', 'Succession' e 'The White Lotus', é um reflexo da pandemia

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Conhecido por sua aversão a surpresas, o Emmy Awards salpicou neste ano prêmios para diferentes públicos, ignorou algumas obras-primas e terminou a noite em portos seguros ao coroar "Succession", "Ted Lasso" e "The White Lotus".

Cartaz da série 'The White Lotus', da HBO Max
Cartaz da série 'The White Lotus', da HBO Max - Divulgação

Poderia (deveria?) ser "Ruptura", "Abbott Elementary" e "Estação 11" (esta nem foi indicada). Muitos reclamarão ainda que "Better Call Saul", chegando ao final, merecia enfim seu Emmy. Mas não dá para dizer que sejam escolhas ruins.

Nas demais categorias, a academia conseguiu pulverizar troféus de "Abbott Elementary" a Zendaya, de "Euphoria", passando pelo hit sul-coreano "Round 6", os dramas soturnos "Ozark" e "Dopesick", cada um sobre um lado da crise dos opioides americana, além de oferecer alguma representatividade, esta sim a maior mudança proporcionada pela era do streaming —duas atrizes premiadas (e uma roteirista) são negras, duas têm mais de 50 anos, um ator é asiático etc.

É inegável, contudo, que ao fragmentar a premiação o Emmy parece não ter certeza de com qual público fala. Aclamar "Succession" como drama e roteiro e entregar a estatueta de melhor diretor a "Round 6"
parece um aceno furtivo ao público jovem que amou o drama estilo game da Netflix.

Deixar a mais provocativa "Abbott", um "The Office" em escola pública, apenas com roteiro e escolher "Lasso" para melhor comédia tampouco faz sentido. E não dar nada a "Ruptura", o suspense da Apple sobre a dicotomia vida pessoal-trabalho que tão bem captura o espírito do tempo, é triste.

As duas vencedoras das categorias principais, escritas com excelência, recorrem a formatos e temas consagrados —a família rica e sórdida cheia de problemas, o azarão que muda de habitat e transforma todo um grupo etc.

Só "The White Lotus", que ficou com o título de melhor minissérie, corria na direção contrária, e curiosamente foi a única a reunir neste ano os troféus de roteiro e direção, além de levar o de melhor ator coadjuvante em minissérie ou filme para o deliciosamente enervante Murray Bartlett na pele de um gerente de hotel.

Numa categoria na qual todas as demais produções eram inspiradas em histórias reais, essa comédia sarcástica e caricaturesca sobre ricaços em férias num resort no Havaí sobressaiu, talvez porque a realidade pandêmica só pudesse ser confrontada com essa dose cavalar de escapismo.

A pandemia, que por tanto tempo nos deixou a sós com nossas próprias idiossincrasias, também parece ter estilhaçado a possibilidade de unanimidades. A única saga em cena, no caso deste Emmy, é "Succession", aquela série em que você torce contra todos os protagonistas.

Mesmo com o advento da segunda tela, temos visto séries e filmes cada vez mais sozinhos, porque a oferta é tanta e a disponibilidade é estreita. Se há algo atualmente em falta na TV, é a catarse coletiva.

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