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'Perlimps' segura a onda de ser herdeiro de 'O Menino e o Mundo'

Na Mostra de SP, nova animação de Alê Abreu fala com crianças sem tatibitate e discute questões complexas com adultos

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Cena de 'Perlimps', nova animação de Ale Abreu

Personagens de 'Perlimps', nova animação de Alê Abreu Divulgação

Perlimps

  • Quando Em cartaz na Mostra de SP nesta ter. (25), às 14h, no Espaço Itaú Frei Caneca
  • Produção Brasil, 2022
  • Direção Alê Abreu

Como dar o passo seguinte? Pode parecer meio besta, mas a pergunta é inevitável para qualquer artista que atinge algum grau de sucesso e reconhecimento. Como produzir o próximo livro após um best-seller, um novo filme depois de um longa-metragem aclamado pela crítica, um disco de inéditas logo em seguida a um hit?

É isso o que Alê Abreu teve que responder em "Perlimps", sua nova animação após o sucesso e os troféus de "O Menino e o Mundo", que entraria em qualquer lista de cem melhores filmes brasileiros e que concorreu ao Oscar em 2016, perdendo a estatueta para "Divertida Mente", da Pixar.

Cena de 'Perlimps', filme de Alê Abreu
Claé, um dos protaginistas de 'Perlimps', animação de Alê Abreu - Divulgação

O diretor brasileiro se sai bem nessa resposta. Exibido na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, seu novo filme consegue mais uma vez produzir algo fundamental para as animações de qualidade —criar uma narrativa com diferentes camadas de interpretação, capaz de entreter o público infantil sem cair no tatibitate e também de discutir questões complexas com os adultos.

No longa, nos vemos diante de Claé e Bruô, dois agentes secretos rivais e criaturas antropomórficas, mistura de crianças e bichos fantásticos. Ambos têm a missão comum de encontrar os tais Perlimps do título, seres místicos que teriam a capacidade de deter os vilões gigantes, que vivem eternamente em guerra e têm a intenção de inundar e destruir o bosque onde os dois personagens vivem.

O que começa como uma fábula ecológica, com acenos para o drama amazônico e para desastres como a construção da usina de Belo Monte e de barragens de mineração que geraram as tragédias de Mariana e de Brumadinho, logo vira uma metáfora política e ganha apelo social. Tanto que no fim extrapola as fronteiras do Brasil e se conecta diretamente a um dos conflitos armados mais antigos do mundo.

Falar mais do que isso seria estragar o pulo do gato do fim do filme, mas é aí que reside um dos problemas de "Perlimps". Tecnicamente, a animação é primorosa e usa uma técnica 2D cheia de cores que lembra a de "O Menino e o Mundo".

Assim como na animação anterior, a história também tem como fio condutor a música e a trilha sonora. O ponto alto é melodia instrumental de "Bola de Meia, Bola de Gude", clássico de Milton Nascimento e Fernando Brant que tem puro gosto de infância e de tarde ensolarada e arranca sorrisos quando surge na tela.

Só que o filme patina no roteiro e tenta explicar demais as coisas, esforçando-se para não deixar espaços vazios para o espectador preencher. É inevitável fazer a comparação com seu longa anterior. "O Menino e o Mundo" é mais complexo, menos confortável, conduzido por questões sociais menos mastigadas e ganha força com sua ousadia quase irresponsável –vale lembrar que a animação é inteiramente falada numa língua imaginária e fictícia, incapaz de ser entendida.

"Perlimps" mira no mesmo alvo, mas não atinge o mesmo ponto. A história opta por jogar no seguro e tentar resolver os conflitos apresentados. Com isso, mantém o espectador confortável e exige menos participação da plateia na interpretação e na condução da história.

Mas isso, de forma alguma, muda o fato de que Alê Abreu está entre os principais nomes do cinema brasileiro hoje. "Perlimps", assim como "O Menino e o Mundo", produz uma narrativa não babacoide para crianças e, ao mesmo tempo, consegue não ser hermético, extrapolando o nicho dos entendidos de cinema. Não é pouco para o passo seguinte.

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