Série e livro mostram como Paul Newman virou máquina sexual na cabana da trepada

Astro morto em 2008 conta intimidades em atração da HBO Max e em autobiografia póstuma recém-lançada nos EUA

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O ator americano Paul Newman The New York Times

São Paulo

"Joanne fez nascer uma criatura sexual em mim", disse Paul Newman sobre sua mulher, a atriz Joanne Woodward. "Deixamos uma trilha de libidinagem por todos os lugares. Hotéis, estacionamentos públicos, carros alugados."

Contou ainda que na casa em que moravam em Beverly Hills, nos Estados Unidos, Joanne construiu de surpresa um quartinho secreto, com uma porta disfarçada de estante que saía do quarto do casal, com uma cama comprada em um antiquário e paredes coloridas. "Chamo de 'cabana da foda'", disse Woodward ao marido, orgulhosa do projeto.

Paul Newman and Joanne Woodward em 'The Last Movie Stars'
Joanne Woodward e Paul Newman em cena da série documental 'The Last Movie Stars' - HBO Max/Divulgação

"Mesmo que todas as crianças estivessem em casa, a gente se escondia na ‘cabana da foda’ várias vezes por semana para poder ter nossa intimidade, fazer barulho e ser bem indecente", acrescentou Newman.

Newman e Woodward se conheceram em 1953, quando os dois foram escalados como atores substitutos em uma peça na Broadway chamada "Picnic", no começo da carreira de ambos. Newman era casado com sua primeira mulher, Jackie Witte, desde 1949. Os dois já tinham um filho de três anos e ela estava grávida do segundo. Tiveram ainda uma terceira menina em 1954.

Mas a atração mútua entre eles foi impossível de resistir, e Newman e Woodward viveram um caso secreto durante quatro anos. Até que, em 1957, depois de filmarem juntos o longa "O Mercador de Almas", Newman se divorciou de Witte, deixou a ex com os três filhos pequenos e se casou com Woodward, seu grande amor.

No começo dos anos 1990, Paul Newman, então com 65 anos, uma carreira gloriosa como ator, cheia de prêmios e sucessos de bilheteria, milionário, pai de seis filhos de dois casamentos, um corredor de carros apaixonado e bem-sucedido dono de uma empresa filantrópica multimilionária, resolveu publicar uma autobiografia.

Contratou um dramaturgo e roteirista em quem confiava, Stewart Stern, autor da peça "Juventude Transviada", transformada em filme com James Dean em 1955, e pediu que ele conduzisse as entrevistas. O que Stern fez, com preparo e dedicação.

Entrevistou o próprio Newman várias vezes, assim como Joanne Woodward, sua ex-mulher, Jackie Witte, suas cinco filhas —o único filho de Paul Newman, Scott, o mais velho, morreu de overdose em 1978, aos 28 anos—, além de amigos, colegas, ex-diretores. A única regra era que todos fossem 100% verdadeiros nas respostas.

Alguns anos mais tarde, no entanto, o ator desistiu dessa ideia. Pegou todas as fitas cassete com as gravações e fez uma grande fogueira para destruir tudo. O que ele não sabia era que Stern tinha feito a transcrição das entrevistas, todas elas, e esse material acabou caindo nas mãos de suas filhas alguns anos atrás.

Paul Newman morreu de câncer de pulmão, em 2008, aos 83 anos. Sua mulher, sem que ele soubesse, guardou as transcrições das entrevistas. Joanne Woodward está com 92 anos, mas sofre de Alzheimer há pelo menos duas décadas e já não tem quase mais nenhuma memória.

Uma das filhas do casal, no começo da pandemia, procurou o ator e diretor Ethan Hawke e entregou tudo a ele. Queria que Hawke produzisse um documentário sobre a vida de seus pais, e o calhamaço de papéis sulfite com as entrevistas escritas a máquina seria material suficiente para ele começar a pensar no que fazer.

E o resultado foi, além da deliciosa série documental "The Last Movie Stars", da HBO Max, lançada em julho pelas mãos de Hawke, a autobiografia "The Extraordinary Life of an Ordinary Man: A Memoir", ou a vida extraordinária de um homem ordinário, que chegou às livrarias americanas nesta segunda-feira. O livro foi organizado por David Rosenthal, que também foi procurado por duas das filhas de Newman e Woodward, Clea e Melissa, que entregaram a ele as mesmas transcrições.

A série "The Last Movie Stars" foi feita com muitas imagens de arquivo e um toque genial. Como estava todo mundo preso em casa, por causa da pandemia, Hawke convidou seus amigos para reuniões por Zoom, em que alguns deles leram as transcrições das entrevistas, interpretando as pessoas que deram as entrevistas originais.

E seus amigos são gente como George Clooney, que interpreta Newman, Laura Linney, que lê as falas de Joanne Woodward, Alessandro Nivola como Robert Redford, Bobby Cannavale como Elia Kazan, Zoe Kazan como Jackie, a primeira mulher, e Brooks Ashmanskas como Gore Vidal, que foi quem disse que Paul Newman e Joanne Woodward eram as últimas estrelas de cinema, título da série.

No começo do casamento, Woodward era a atriz famosa, considerada um grande talento. Newman era só o ator que ficava com os papéis que James Dean não aceitava ou não podia fazer. Quando Dean morreu, precocemente, aos 24 anos, é que Newman começou a ser considerado a opção dos diretores e produtores.

Ethan Hawke também conversa por Zoom com Martin Scorsese, Billy Crudup, Sam Rockwell, Sally Field e até sua filha Maya Hawke, de 24 anos, do casamento com Uma Thurman. As cinco filhas de Paul Newman também dão entrevistas.

O documentário, que estreou sem nenhum alarde do canal de streaming, é diferente de tudo o que tem sido feito por aí, feito com muita seriedade mas com um tom totalmente despretensioso, que faz o público se sentir próximo de todas as pessoas que aparecem na tela, mesmo que sejam as últimas estrelas de cinema em uma noite de Oscar.

The Last Movie Stars

  • Onde Disponível na HBO Max
  • Classificação 12 anos
  • Elenco Com George Clooney e Laura Linney
  • Produção Martin Scorsese
  • Direção Ethan Hawke

The Extraordinary Life of an Ordinary Man: A Memoir

  • Preço US$ 32 (320 págs.)
  • Autoria Paul Newman e David Rosenthal
  • Editora Knopf
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