Artista representa paisagens de Minas Gerais com mesmo silicone usado em próteses

Adriano Amaral apresenta, em exposição em galeria de São Paulo, cenas do cotidiano na fazenda onde vive

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São Paulo

Junto com a natureza morta e o retrato, a representação de paisagens é um dos temas clássicos e mais facilmente reconhecíveis na história da arte. Isso não significa que ambientes rurais precisem ser apresentados como pinturas plácidas, embora com frequência eles sejam.

Em uma exposição em cartaz agora na Galeria Jaqueline Martins, em São Paulo, Adriano Amaral retrata os arredores da fazenda em que vive no interior de Minas Gerais com silicone, o mesmo usado em próteses humanas. Na sua nova série, "Pinturas Protéticas", vemos árvores, uma lagoa, uma vaca caída sendo comida por um urubu e também os contornos de uma menina —sua filha— gravados na borracha em alto relevo.

Obra sem título, da série 'Pinturas Protéticas', realizada em 2022 - José Pelegrini

O silicone é "uma referência direta à ideia de corpo —sua textura imita a materialidade do corpo, a elasticidade e a densidade da borracha são próximos a características da pele humana", afirma o artista, em entrevista por vídeo, acrescentando que o material, que ele vem pesquisando desde 2014, é muito rico em possibilidades escultóricas.

As relações do vivo com o artificial, da ecologia com a tecnologia, tão evidentes nesta mostra, são uma assinatura do artista paulista de 40 anos, mais conhecido por suas instalações. Amaral já misturou em um mesmo trabalho lâmpadas fluorescentes e vespas; em outro, criou rodelas feitas com farinha de milho e mofo crescido. Como usa materiais orgânicos, parte das obras se modificam ou se degradam enquanto estão expostas. São trabalhos criados naquele espaço e que depois se perdem.

A ideia é "não ter o controle de tudo, ter certos aspectos que têm uma imprevisibilidade", afirma o artista. Na exposição, há três instalações feitas com terra trazida de sua fazenda misturada a fertilizantes. Dispostos no chão, em formatos que lembram túmulos, os montes de terra foram secando e trincando com o passar dos dias, e fungos prateados apareceram graças à interação da matéria orgânica com a amônia, outro elemento desses trabalhos.

Esta é a primeira mostra de Amaral nos últimos cinco anos, depois de ter exposto na Alemanha e na Holanda, país no qual fez uma residência artística no tradicional programa De Ateliers, em Amsterdã. Chamada "Lagoa de Dentro", marca também uma mudança da pesquisa do artista em direção a trabalhos de parede, mais próximos da pintura, boa parte dos quais pictórico.

Não que suas paisagens sejam claras e cristalinas —elas aparecem sugeridas pelas gravações no silicone ou, ao contrário, escondidas atrás desse material. São trabalhos que falam da relação do homem com a natureza, tema em voga por causa do aquecimento do planeta, mas de maneira comedida. "Não gosto de ser literal", afirma o artista.

Lagoa de Dentro

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