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Cristianismo não foi bom negócio para mulheres, diz Maria Homem na Casa Folha

Influencer Mariam Chami e psicanalista discutiram preconceito religioso, mas debate surpreendeu público quando falou de sexo

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Paraty (RJ)

O mote da segunda mesa da Casa Folha, em Paraty, neste sábado era "preconceito e liberdade", mas as discussões partiram desses temas e foram muito além deles em apenas uma hora.

A psicanalista e colunista da Folha Maria Homem e a influencer Mariam Chami, que se dedica a desmontar os estereótipos em torno do islamismo, falaram sobre filosofia, religiosidade, sexo e vida profissional.

Maria Homem, colunista da Folha participa de mesa de debate com Mariam Chami e Fernanda Mena na Casa Folha, durante a Flip - Zanone Fraissat/Folhapress

"Crio conteúdos na internet para combater a desinformação sobre o islamismo. Para começar, o que é ser árabe e o que é ser muçulmano? Árabe é quem nasce em um país árabe, e muçulmano é aquele que escolheu a religião islâmica. Muitos acham que todos os muçulmanos são árabes, não necessariamente. A nação com maior população muçulmana é a Indonésia, que não é um país árabe", afirmou Chami.

Formada em nutrição, ela contou que nunca conseguiu emprego nessa área no Brasil devido ao preconceito em relação ao islamismo, especialmente por causa do uso do hijab. "As mulheres sofrem discriminação. Se são mulheres muçulmanas, tem um ‘plus’", disse Chami.

Usar ou não o hijab foi o mote para que Maria Homem defendesse "o direito inalienável de escolha". Segundo ela, mulheres e homens deveriam ser livres para escolher morrer em situações de dor extrema. Ou para gozar como quiser. Ou ainda para abortar caso a mulher julgue ser esse o melhor caminho.

Foi aplaudida quando arrematou o pensamento "confie na sua consciência". "Não precisa fazer que o mundo inteiro seja igual a você para você não desejar [aquilo que pretende proibir]."

Era também o que pensava Contardo Calligaris, que morreu no ano passado e de quem Maria Homem foi companheira. Na sua fala inicial, ela lembrou que estava com o psicanalista italiano radicado no Brasil na sua última visita a Paraty.

Foto de Mariam Chami e marido
Mariam Chami e seu marido na Casa Folha, na Flip, em Paraty - Sérgio Dávila/Folhapress

Chami também falou sobre a vida sexual dos muçulmanos. "O marido tem a obrigação de satisfazer sexualmente primeiro a sua mulher. Só depois é que ele vai se satisfazer."

A afirmação da influencer chamou a atenção do público –a Casa Folha estava lotada, com algumas pessoas assistindo ao debate do lado de fora, com guarda-chuvas que protegiam da garoa. Alguns dos presentes começaram a comentar o tema em voz alta. "Essa mesa virou autoajuda", brincou a psicanalista. "Aproveitem a Flip, tem balada toda noite."

Chami completou, sem quebrar o clima de descontração —"só dentro do casamento!".

A partir daí, Maria Homem passou a discorrer sobre os efeitos históricos das religiões monoteístas sobre a autonomia feminina. "O cristianismo não foi um bom negócio para a mulherada. Elas tiveram que recalcar o corpo", afirmou.

Grosso modo, o raciocínio é o seguinte —segundo o cristianismo, a alma é imortal, e o corpo, mortal. A religião prevê, portanto, uma transcendência daquilo que é imaterial. Sendo mortal, o corpo também é corruptível, de acordo com a psicanalista. "Ser cristão é dominar as pulsões. As bacantes, seguidoras de Dionísio na Grécia antiga, eram bem mais livres do que as mulheres do Ocidente cristão de 1300"

Ao comentar o veto ao sexo antes do casamento no islamismo, Chami deu sua versão para o que Maria Homem entende como "domínio das pulsões". De modo indireto, ela respondeu à interlocutora na mesa.

"Sempre me perguntam ‘como casar com alguém sem antes fazer o test-drive?’ [risos]. Nós não casamos com uma pessoa pensando só em sexo. É preciso haver diálogo e outros pontos em comum", disse a influencer. "Mas podemos nos separar, existe essa possibilidade no Islã."

Segundo Maria Homem, há historicamente duas formas de conceber e mesmo regular o casamento. "A mais antiga: primeiro casa e depois ama, pois o amor se cria na convivência. É usualmente uma aliança entre famílias", disse a psicanalista.

"E a segunda, moderna, em que o indivíduo escolhe seu par. E dá uma boa e vasta pesquisada antes. É onde estamos em termos históricos no Ocidente."

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